hum Capitulo
separado a seguinte: "Fica offendida a liberdade da industria (prossegue
o Ministro) quando se estabelecem Corporações de Artes, e Officios;
quando o Governo tem faculdade de fazer-se empresario; quando se
fórmão Companhias exclusivas de Commercio; quando se exclue
algum ramo de industria, ou he opprimido com impostos. Quanto á
propriedade que se adquire com a industria, póde ser prejudicada
directa ou inderectamente pelas Leis da confiscação; pela usurpação do
poder administrativo nas cauzas civis; pelos emprestimos que tomasse
o Governo sem huma utilidade evidente para o Estado; pelas pensões
concedidas sobre a divida pública fóra dos casos prescriptos pelas Leis;
por impostos mal estabelecidos, ou que excedem as necessidades
públicas."
Viamos e não Veremos, que se concedão Privilegios até aos Cegos (que
parece mesmo Privilegios de Cegos!) a hum ponto tal que os
authorizasse para nas terças feiras fazerem aprehenção em quantos
Livros achassem á venda, ou, fossem ou não de particulares, e que a
menor pena imposta, era, o perdimento d'elles, e 5$. de condemnação!...
Acabamos de saber em fim que elles se tem deixado (posto que a sua
vontade fosse o contrario) de obstar aos rapazes que ao presente se
occupão (e que até he huma providencia; pois que a maior parte d'elles
se occupava em tirar lenços) em vender folhetos, e Versos analogos á
Liberdade Constitucional.
Viamos e não Veremos, que a huma pobre e honrada mulher lhe fosse
prohibido vender huma saia, ou huma camisa com o risco de a perder, e
ir parar ao Limoeiro.
Viamos e não Veremos, huma infame Proclamação que dê o nome
de--Rebeldes!!!--aos Heróes que no dia 24 de Agosto levantárão pela
primeira vez a voz da Razão, e do Heroismo sobre a Liberdade
Constitucional.
Viamos e não Veremos, hum infeliz criminoso estar prezo quatorze
annos ao fim dos quaes propor-se em Relação, e dar-se-lhe a escolher
se queria morrer, ou ser carrasco! Tão infeliz quanto generoso, e de
alma grande foi hum criminoso, que respondeo: Quero morrer, porque
posto que eu com constancia tenha supportado quatorze annos de
prizão, não me acho com forças bastantes para ficar o restante da vida
com a obrigação de ser algoz da Humanidade!
Em fim Viamos... Viamos... Viamos... e não Veremos... e não Veremos...
e não Veremos... coisas que tanto nos fazião a vista turva, e que nos
estavão quasi fazendo cahir em hum perfeito Cáhos de escuridade;
porém agora pelo contrario Veremos... Veremos... e Veremos... coizas
que nos fação, e farão a vista clara qual Linces, nossos gosos felizes, e
affortunados... Em conclusão:--Veremos, que assim como Portugal he
nomeado, ou tido por--Paraiso na terra--nós o seremos por--Entes
bemaventurados no Mundo.
Pensamentos, e Maximas proprias, e adequadas ás Idéas Intellectuaes,
e Moraes do Homem.
Liberdade.
I. Diogenes, perguntado, que cousa havia melhor na vida, respondeo: A
liberdade que perde o Avarento, em quanto se faz escravo de todos os
vicios.
II. Empenhou-se Pericles a ter em sua companhia a Timon, e lhe fazia
tão grande partido, que lhe prometteo com grandeza tudo quanto lhe
fosse necessario para passar a vida humana alegremente:
Respondeo-lhe elle, que não vendia a sua liberdade.
III. Nunca usamos melhor da nossa liberdade, do que quando a
sacrificamos á direcção de pessoas, que hão de responder
necessariamente da authoridade com que della usárão.
IV. Quem se lembrasse, que não foi dada a liberdade para della usar á
descrição das paixões, mas só pelas regras do bom sentido, da razão, e
das Leis, logo que se não sentisse com forças para a levar por estes
caminhos, a não querer despenhar-se, estimaria topar a quem quizesse
carregar-se do contrapezo de responder por si e pelos outros.
V. Persuadia huma Hippócrates, que se passas-se para Xerxes,
dizendo-lhe que era bom Senhor. Respondeo elle: Nem ainda de bom
senhor tenho eu necessidade.
VI. A liberdade politica, he a que tem cada individuo da sociedade, não
para executar quanto lhe fizer emprehender huma fantezia selvatica;
não foi para isto, que nas primeiras convenções se acordárão os homens
entre si de hum deposito commum de suas forças relativas; mas he para
gozarem toda a segurança de quanto lhes pertence, sem dever ser
perturbado de outro seu igual, e similhante Feliz Estado, em que só se
depende da Lei.
VII. A hum que invejava a fortuna de Aristoteles, por comer á meza
com Alexandre, disse Diogenes: Melhor he a minha, pois Diogenes
janta quando Diogenes quer; e Aristoteles quando quer Alexandre.
VIII. Non bene pro toto libertas venditur auro, disse Horacio. E o
judicioso Falcão introduz a hum rato muito invejoso de ver a outro em
huma ratoeira rodeado de muito comer, e campo mui espaçoso para
passear. Assim he lhe respondeo elle, porque não me faltão iguarias, e
este palacio tão formoso para me divertir; mas amigo tomara-me eu
daqui cem legoas.
IX. Diogenes, perguntado,
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