alimento do fogo em que arde o incenso aos triumphadores da ultima hora?
Que sentimento de responsabilidade impera no indifferente, que entre dois bocejos, lan?a a vista, apathica e distraida, para o veio de agua que leva á costa o desarvorado baixel da causa publica?
Que sentimento de responsabilidade aconselha o voto do deputado que limpa com a dignidade os pés dos eleitores, ou que traz no diploma o vinco das libras?
Que sentimento de responsabilidade opprime o funccionario publico nas m?os de quem os negocios ficam sempre em processos pendentes?
Que sentimento de responsabilidade experimenta o militar que semeia a indisciplina nas tarimbas dos quarteis?
E que sentimento de responsabilidade tem uma na??o que, no seu desapego profundo ao que de perto lhe deve tocar, se contenta com o sorrir á carencia de todas estas responsabilidades?
Essa carencia n?o fórma ainda o typo completo da nossa sociedade, mas alastra-se tanto sobre a politica e sobre a administra??o, que a existencia da nodoa será problematica sómente para quem escuta e n?o ouve; para quem olha e n?o vê.
III
Do que dito fica deriva esta natural consequencia:
O paiz n?o tem vontade propria.
A recorda??o do que se acaba de passar, no curto espa?o de sete mezes, dará inequivoca prova d'esta deploravel proposi??o.
Corria o mez de mar?o de 1870. Governava o partido historico. Houve elei??o geral. D'ella saiu t?o numerosa maioria, que apenas dez ou doze candidaturas de opposi??o declarada conseguiram cantar victoria no dia da lucta.
Caiu o ministerio progressista e veio o senhor duque de Saldanha, que, mais feliz do que Diogenes, conseguiu ao cabo de alguns dias achar o seu homem. Foi ministro do reino o sr. José Dias Ferreira e dissolvida a camara dos deputados. No fim de poucas semanas as urnas inchavam com tal hydropisia ministerial, que a opposi??o luctava apenas n'um ter?o dos circulos.
Passou d'esta para melhor vida a pasta do sr. José Dias. Entrou o sr. bispo de Vizeu. Pois dezoito dias bastaram para que a maioria, que andava na forja, t?o luzida e primorosa, se convertesse em refugo diante do baculo episcopal.
Terá, portanto, vontade propria o paiz?
Responda o que fica narrado.
é fóra de duvida que ainda ha muito cidad?o honesto e intelligente, que tem a consciencia do acto que pratica, quando lan?a um voto na urna. Supp?r o contrario seria injusto e pouco verdadeiro. Quem escreve estas linhas sabe, por experiencia propria, até aonde póde alcan?ar o desinteresse e subir a dedica??o reflectida de centenares de eleitores.
Desgra?adamente a regra é outra. O corpo eleitoral tem por nome Legi?o, e ahi, aonde se conta por dezenas de milhares, nem sempre a espontaneidade e o raciocinio constituem a mais pronunciada fei??o d'essa cohorte numerosissima.
O que o paiz quer sabemos nós todos. Quer boa administra??o; quer paz; quer ordem publica; quer finan?as prosperas, independencia e moralidade.
O que o paiz n?o sabe querer é servir-se dos meios legaes para a obten??o do que deseja.
E, comtudo, a formula de eterno conselho:--?Ajuda-te que Deos te ajudará?--leva mais de cincoenta seculos de existencia nos ouvidos da humanidade!
Ora como o paiz n?o sabe querer, corre tudo geralmente fóra de seu influxo directo.
As elei??es, a primeira func??o constitucional; a melhor Egeria da cor?a; a pedra de toque da popularidade; a express?o da mais augusta soberania, a soberania popular, n?o dependem, em sua maioria, do sentimento politico, na boa e lata accep??o da palavra: systema, idéas, principios, mas de uma evolu??o artificial dentro de tres detestaveis corpora??es que as falsificam com uma influencia impura ou deleteria:
O grupo dos indifferentes;
O rebanho dos timoratos;
A guerrilha dos corruptos.
Para os da testa do rol todos os candidatos s?o de igual estatura. Uma razoira, implacavel por descuidosa, confunde n'uma superficie commum o talento e a estupidez; o saber e a ignorancia; a aptid?o e a inutilidade; a boa fé e a especula??o; a honradez e a improbidade. D?o ao favor, á cortezia, á amizade e ao empenho, o que deveriam conceder ao interesse publico e á reflex?o. Para elles tanto vale que entre nas c?rtes um homem d'estado, como que alli tome assento alguma creatura que do velhissimo Ad?o só tenha herdado o barro quebradi?o, ermo de qualquer fagulha de espirito.
Quanto mais de ao pé da porta os salteia a peti??o; quanto mais palpam no candidato alguma costella de parentesco; quanto mais de cima lhes baixa o memorial, tanto mais batem as redeas ao Pegaso do elogio, que v?a de aldeia em aldeia, levando no dorso a musa da recommenda??o.
Sorrirá o leitor das ampoulas da phrase. N?o tem raz?o. Chama-se a isto c?r local, ou cousa que a valha.
A lista é para elles uma carta que n?o necessita de ser aberta. O papel, a estampilha, a marca e o portador, bastam para satisfazer-lhes a curiosidade.
Porém se os indifferentes s?o muitos, os timoratos ainda s?o mais.
Está n'elles a materia prima das maiorias parlamentares.
S?o o paiz de varios governos.
S?o a
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