Trovas

António Florencio Ferreira
A free download from www.dertz.in

The Project Gutenberg EBook of Trovas, by António Florencio Ferreira
This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org
Title: Trovas
Canções de Amor
Author: António Florencio Ferreira
Release Date: October 23, 2007 [EBook #23156]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
0. START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK TROVAS ***
Produced by Vasco Salgado
ANTONIO FLORENCIO FERREIRA
+TROVAS+
+(Canções de amor)+
1906
IMPRENSA DE LIBANIO DA SILVA
_29--Rua das Gaveas--31_

LISBOA
+TROVAS+
ANTONIO FLORENCIO FERREIRA

+TROVAS+
+(Canções de amor)+
1906
IMPRENSA DE LIBANIO DA SILVA
_29--Rua das Gaveas--31_

LISBOA
Para satisfazer ao pedido de amigos e corrigir as deformidades que se
encontram nalgumas copias, imprimo agora as modestas quadras que
principiaram a ser conhecidas sob o titulo de _Canções d'Amor_, por
me ser impossivel publioar de momento o livro que conterá, além das
modernas, as principaes composições dos meus volumes de versos, que
de ha muito não apparecem no mercado.
Lisboa, 1906.
0. FLORENCIO FERREIRA.
+Trovas+
I
Vês aquelle enterro humilde,
Sem padre, sem cruz, sem nada?
Vês
aquell'outro, pomposo,
Do templo a frente enluctada?
O primeiro é d'um honrado;
Talvez o do outro o não seja...
Mas
ambos, de igual doutrina,
São filhos da mesma Egreja.
O que me admira e me assombra
É o affecto d'esta mãe,
Que ao
rico dispensa afagos
E ao pobre atira o desdem!
II
Moram aqui uns vizinhos
Que sabem quanto fazemos;
São capazes
de informar-nos
Se nos devem, se devemos...

Em vindo qualquer pessoa
Nossas tenções inquirir,
Manda-se lá...
inteirada
Por certo que ha de sahir!
III
Dizer que Deus dá _Castigos_
_Eternos_, que não têm fim,
É a
maior das blasphemias,
Heresia, quanto a mim...
Se os homens, por maus que sejam,
Tal não podem legislar,
Porque
a Morte aos criminosos
Vem da pena libertar,
Querer que Deus os exceda
No rancor e na secura
É de embrenhar
nosso espirito
Nuns abysmos de amargura!
IV
Deixemos, Amor, deixemos
Questões de philosophia;
Pode nellas
haver sciencia,
Mas não podem ter poesia.
V
Não são vossos meus cantares,
Mulheres que festejei;
Vistes o amor
em chimeras?
Nunca illudir-vos pensei!
De que servem esses gabos,
Essa idéa presunçosa?
Esquecestes esta
maxima:
«Sê modesta, não vaidosa.»
VI
Peregrina luz da lua,
Como é velho o teu palor!
Mas, como tu,
sempre encanta,
Velha embora, a luz do amor!
VII
Oh! consente-me num somno
Dormido ao terno embalar
Da poesia
que se evola
Do teu mimoso afagar!

No calor do teu regaço
Que sonhos devêra ter!
Nos braços de huris,
de fadas
Mais gôzo não pode haver!
VIII
Meu coração foi sangrado;
Já se não usa a sangria...
Por isso, caso
hoje raro,
Elle sangra noite e dia.
Foi operante... quem amo;
A lanceta... o seu olhar;
A ligadura...
seus beijos,
Que não tardei a furtar.
E assim elle está gemente,
O meu pobre coração,
Á espera de que
mais beijos
O estanquem e ponham são!
IX
Deixa-me num fragil barco
Nas vagas de iroso mar,
Uma vez que
nellas ouça,
Mesmo ao longe, o teu cantar!
Lancem-me na horrenda chamma
Da cratera d'um vulcão,
Uma vez
que assim o indique
Tua nivea, linda mão!
O morrer por ti é vida;
Que importa viver sem ti?...
Nem sequer um
ai sonhaste,
Quando em tantos me exhaurí!
X
Qual viajante nos desertos,
Que nunca a sêde perdeu,
Encontrar em
vão procuro
Amor que se iguale ao meu!
XI
Dize que seja ao sol-pôsto
Que me devem enterrar,
Para do sol e
das aves
A despedida aceitar.
Quero guardar bem guardados
Esses mimos de ternura,
E dar-t'os

quando gelada
Baixares á sepultura.
XII
Em horas tristes minh'alma
Vae ao encontro da tua,
Qual nocturno
caminhante
Ancioso da luz da lua.
E fico não sei que tempos
A teu lado, sem saber
Se nessa vida é que
existo,
Se na que torno a volver!
XIII
O que fôr da nossa indole
Não se pode anniquilar;
Digam ás rôlas
que matem,
Aos lobos que vão rolar...
Consegue-se por semanas
Á inexperiencia mentir,
Mas, ou mais
cedo, ou mais tarde,
Bom, ou mau, tem de surgir.
XIV
Tlim, tlim, tlim, tlim, tlim!--Quem bate?
--«O Amor.»--Que
pretende?--«Entrar.»
--Vá-se embora!--«Então é gelo
O que a tantos
vae queimar?...»
XV
Ai Coimbra, ó minha terra,
Não me encantas! salgueiral,
Estas veias
do Mondego,
Tempos idos, nada val'...
Meu coração está longe,
Oh! muito longe d'aqui!
Ella, tão distante,
vejo-a!
Ólho, e sempre a vejo a si!
XVI
Meu Amor, estás dormindo,
Não te quero despertar...
Ha de ser
devagarinho
Que trovas te vou soltar.

De musgo, lirios e rosas
Uma cama irei fazer;
De jasmins e de
saudades
O travesseiro ha de ser.
Quero que vejas nos sonhos,
Lindos, bellos, perfumados,
Os meus
olhos, da vigilia,
Tristes, languidos, magoados...
XVII
Como são bellos os campos
Com esta luz verde e ouro!
Que
namorados gorgeios!
E de fructos, que thesouro!
O que me trouxe indeciso,
O que me faz vacillar,
É se do sol se
douraram,
Se tu que os fôste enfeitar!
XVIII
Sinto por vezes morderem-me
Remorsos...--visão pungente!
Ditoso
de quem for justo!
Feliz do que não os sente!
Mas nunca tive nem odios,
Nem invejas, nem rancores!
Remorso é
de arrependidos,
Do inferno aquelles horrores!
XIX
Teus beijos são differentes
Dos que costumo trocar:
Falam,
suspiram, seduzem,
Querem minh'alma
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 6
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.