levou revolta,?Que outro sopro talvez desfa?a em breve--?N?o sabe a triste o ramo onde nascera,?A seiva que a nutriu, quando inda bella,?O tronco que adornou com verde galla,?E onde entre irm?s folgou por tarde amena??Soltos do tronco, sem calor, sem vida,?Filhos orph?os que um seio n?o aquece,?Um seio maternal ebrio de affectos,?Meus cantos voar?o de edade em edade,?Como folhas que ao longe o vento espalha.
Mas se alguem, vendo a folha abandonada,?Lembrar e vir na mente o tempo antigo?Em que bella, vestindo pompa e gallas,?Brilhou rica de seiva e luz e vida;?Se na mente sonhar a pura essencia?Que animara esse pó ahi revolto;?Se corpo der á sombra fugitiva,?E a voz unir ao ecco, e o foco ao raio;?Se alguem souber do canto o sentir intimo,?Oh, esse ha de entender a vida, a cren?a?D'essa alma que animara outr'ora o canto.
Se alguem tiver no peito a urna mystica?Onde o Amor se recolhe, esse hade amar-me;?Se livre, por tyrannos n?o comprado,?Pulsar um cora??o, esse commigo?Hade a aurora saudar do _novo dia_;?Se uma alma recordar a eterna patria?Que lhe dera o Senhor, do céo saudosa?Commigo a Deus n'um hymno hade elevar-se.
Aos mais será mysterio o canto e a lyra,?á Liberdade, a Amor e a Deus votada:?E já, soltos do tronco onde medraram,?Meus cantos voar?o de edade em edade,?Como folhas que ao longe o vento espalha.
Coimbra, Novembro, 1860.
II
LA?O D'AMOR
A poesia _As Estrellas_ appareceu pela primeira vez publicada na segunda parte da _Beatrice_ (p. 27 a 31), mas sem titulo, e com a epigraphe _Excelsior_. O poeta leu-m'a em 1861 com o titulo _As Estrellas_, como uma das suas melhores Odes. No manuscripto que possuo tem a data:--_Figueira, Setembro_--1860; n?o apresenta variantes apreciaveis da edi??o do 1863, por isso a n?o reproduzimos.
_T. B._
LA?O D'AMOR
_Ao amigo Santos Valente enviando-lhe para o seu Album a poesia AS ESTRELLAS_
Que heide dar de melhor? Ai, n'estes tempos?De pobres affei??es, de tibias cren?as,?--Fonte que os sóes do estio tem seccado--?Aonde ha fé tam viva, que trasborde,?Enchendo um peito n'outro peito amigo??Que esperan?as cá da terra ha hi tam firmes,?Tam ricas de futuro, que dois sêres?Possam firmar-se n'ellas sem receio?E abandonar-se todo ao seu arrimo,?Qual bra?o de mulher em bra?o de homem??E quem pode encontrar-se em egual via,?E ir, com norte egual, seguir seu rumo?Quando tantos caminhos v?o cruzando?N'estes tempos o mundo do espirito??Ah, n'este sec'lo, amigo, solitario?Cada qual segue triste a sua estrada,?Caminheiro de um dia, e silencioso,?Contando, como o avaro, os tristes restos?Das suas illus?es, das suas cren?as,?A si pergunta o que ficou de tudo;?Olha as bandas longiquas do horizonte?E de novo interroga, em desalento,?Se o futuro lhe guarda alguma esp'ran?a,?Se o abysmo é o termo da jornada?!
Se lá de longe em longe alguma tenda,?Se uma fonte que ensombra alta palmeira.?Lhe alveja no deserto; se inda um pouco?Lhe repousa a cabe?a afadigada,?N?o faz, crente no Deus que o tem guiado,?A ora??o da noite, a ac??o de gra?as?E, antes que cerre as palpebras, medita...
No repouso só busca o esquecimento:?Dorme o somno agitado de uma noite?Sob a tenda que o acaso lhe depara;?De manh?, sem levar uma saudade,?Sem as deixar tambem, eil-o seguindo?Do fatal peregrinar a longa via.
Que lhe importa o passado ou o futuro??P'ra d?r que soffre em si tudo é presente,?Aqui, ali, em toda a parte o punge...?Quem lhe dera esquecer, n?o recordar-se...
Ora??es? s?o incenso cujo aroma?é de lagrimas... e as d'elle se h?o seccado!?Orgulhoso na d?r, da d?r o orgulho?Fal-o erguer solitario e silencioso,?Como se ergue o granito no deserto?Ermo, nú... se medita... e só comsigo.
Assim vae cada qual seguindo o rumo?Que o accaso ou o fado lhe depara:?Quem se pode encontrar? que la?o estreito?Ha que os aperte? Idéa ou sentimento
Aonde em cren?a egual juntos communguem?
........................................
Com tudo Deus existe! e nós, seus filhos,
--Ingratos--se n'uma hora o olvidámos,
Dentro temos a voz de eterno brado!
Quem pode renegar seu pae? Nós somos
Como esse Ad?o occulto no arvoredo
Que n?o quer responder a _quem_ o chama:
Porém se a voz do pae clamou tres vezes,
N?o pode resistir--?Eis-me presente.?--
Dissidentes no mais, Deus nos reune:?No impio, ou crente, em todos Deus existe?E todos chama a si, e a todos ama.?Nós somos como rios que descendem?De varia serra, e em vario leito correm:?Mas, que importa? essas serpes tortuosas,?Após rodeios mil, após mil voltas,?V?o todas dar no mar; some-as o Oceano.
Que importa a cren?a varia e o vario affecto??Este la?o de amor a todos une:?--Existe um Deus que é Pae; somos seus filhos.
Coimbra, Maio, 1861.
III
FOR?A--AMOR
FOR?A--AMOR
O que destroe os mundos,?E dá que os mar's frementes,?Em volta aos continentes,?Cavem abysmos fundos;
A m?o que faz que a noite,?Sem luz, amor, encanto,?Se envolva em negro manto?Aonde o mal se acoite;
Que p?s no olhar o brilho,?E deu ao labio o riso,?á planta o pomo liso.?Seio de m?e ao filho;
O que é verbo da vida,?Do amor, da luz, do affecto,?O que sustenta o insecto?E a planta desvalida;
E disse á nuvem branca?--Em densas trevas morre,?E disse ao
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