Paródia ao primeiro canto dos Lusíadas de Camões por quatro estudantes de Évora | Page 3

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fiz algumas cotas para intelligencia da obra.
Isto me parece basta para se saber o como esta obra se fez. E eu _Francisco Soares Toscano_ o fiz aos 10 de Janeiro de 1619.
FESTAS BACCHANAES.
ARGUMENTO.
_Fazem concilio os bebados de porte,?Opp?e-se aos Bagulhentos Pedro ingente;?Favorece-os o Catigela forte,?No Lamarosa tem seu lava-dente.?De inveja Lyeo lhes busca a morte,?Descendo a Monte-mór contra esta gente,?Que vê em rio Mourinho a ac??o traidora,?E a Peramanca chega vencedora_.
I.
Borrachas, borrach?es assignalados,?Que de Alcochete junto a Villa Franca,?Por mares nunca d'antes navegados?Passaram inda além de Peramanca:?Em pagodes, e ceias esfor?ados,?Mais do que se permitte a gente branca,?Em Evora cidade se alojaram,?Onde pipas e quartos despejaram:
II.
Tambem as bebedices mui famosas?D'aquelles que andaram esgotando?O imperio de Baccho, e as saborosas?Agoas do bom Louredo devastando;?E os que por bebedices valerosas?Se v?o das leis do reino libertando;?Cantando espalharei por toda a parte,?Se a tanto me ajudar Baccho, e n?o Marte.
III.
Cessem do Novell?o, do gran Barban?a?As grandes bebedices que fizeram;?Cale-se do Rangel e do Carran?a?A multid?o dos vinhos que beberam,?Que eu canto d'outra gente e d'outra lan?a,?A quem frascos de vinho obedeceram:?Cesse tudo o que a musa antiga canta,?Que outro beber mais alto se alevanta.
IV.
E vós, bacchanaes nymphas, pois creado?Em mim tendes a sêde t?o ardente,?Se sempre em largo copo espraiado?Festejei vosso vinho alegremente,?Dae-me agora um bom papo despejado?Para beber á perda co'esta gente,?Porque de vossas agoas Baccho ordene?Um rio para bebados perenne.
V.
Dae-me uma vasilha mui cheirosa,?Seja de bom licor, n?o saiba a arruda,?De Peramanca seja que é gostosa,?O peito esfor?a, a c?r ao gesto muda;?Dae-me igual nome ás tassas da famosa?Gente vossa que Baccho tanto ajuda;?Que se espalhe, e se cante no universo,?Se tanta bebedice cabe em verso.
VI.
E vós, Fernan Gon?alves, seguran?a?Das festas de Lyeo em esta idade,?Podeis atravessar com confian?a?Quantas adegas ha n'esta cidade:?Vós, mano, nosso amor, nossa esperan?a,?A quem só promettemos lealdade,?Pois Baccho a nós vos deu por cousa grande,?Seja a medida assim de quem a mande.
VII.
Vós só tendes o ramo florescente?Da arvore de Cybele mais amada,?Que nenhuma nascida em Benavente?Ou pelo rio abaixo até Almada.?Vêde-o nas toalhas, que presente?Vos mostra a bebedice já passada,?Nas quaes vivas lembran?as vos deixou?O que de vinho mais se carregou.
VIII.
Vós, alto taverneiro, cujo imperio?O bebado em se erguendo vê primeiro,?Ou beba n'este nosso hemisferio,?Ou beba lá n'esse outro derradeiro:?E nem por isso sente vituperio?O fidalgo, o estudante, o cavalleiro,?Antes o Turco, o Mouro, e o Gentio?Lhes pêza n?o beber do vosso rio:
IX.
Inclinae por um pouco a magestade,?Que no azamboado rosto vos contemplo,?Quando fordes c'os mais d'esta cidade?Offertar-vos a Baccho no seu templo:?Os olhos da real bebecidade?Ponde no borrach?o, vereis exemplo?De amor de vossos vinhos saborosos?Por bebados louvados espantosos.
X.
Ent?o vereis se sois bem conhecido?De todos os amigos de Falerno;?Que n?o é pouco ser obedecido?No estio, primavera, outono, inverno:?Ouvi, vereis o nome engrandecido?D'aquelles de quem sois senhor superno;?E julgareis qual é mais excellente?Se ser do mundo rei, se de tal gente.
XI.
Ouvi, que n?o vereis com v?s fa?anhas?Fantasticas, fingidas, mentirosas,?Louvar os vossos, como nas estranhas?Musas, de engrandecer-se desejosas:?Bebedices dos vossos s?o tamanhas,?Que excedem as sonhadas fabulosas,?Que excedem ao primeiro vinhateiro,?E a Baccho inda que f?ra verdadeiro.
XII.
Por estes vos darei um Claudio fero,?Que fez a Peramanca tal servi?o,?Um fulano Coutinho, que de mero?A borracha para elle só cubi?o.?Pois pelos doze Pares dar-vos quero?Uns doze que sobre um pobre chouri?o?Entornaram t?o rijo que de cama?Um monte lhes serviu d'esterco e lama.
XIII.
E se a troco de Nun'alvres e Barban?a?Ou do Luna quereis igual memoria,?Vêde primeiro a Pedro, cuja lan?a?No beber escurece qualquer gloria;?E aquelle que do enxame a seguran?a?No copo só quiz ter, por ter victoria;?Aquelle Diogo, invicto cavalleiro,?Que em quatro n?o é quarto, mas primeiro.
XIV.
Nem deixar?o meus versos esquecidos?Aquelles que na sêde gastadora?Se fizeram no copo t?o subidos,?De Lyeo a bandeira vencedora:?Um Daniel fortissimo e os temidos?Lacaios, por quem sei que sempre chora?Da Chamusca e Louredo o vinho forte,?E outros a quem Thetis causa a morte.
XV.
Em quanto a estes canto, e a vós n?o posso,?Bom Fernando, que n?o me atrevo a tanto,?Essa m?o alargae ao vinho vosso,?Dareis materia a nunca ouvido canto.?Come?ar?o a fugir d'agoa do po?o?Os que em vêl-a sómente tem espanto,?Que em pagodes, merendas e jantares?Empinar querem só de Baccho os mares.
XVI.
Em vós os olhos tem o Mouro frio,?Frio, que usar de vós lhe n?o é dado;?Pelo contrario o barbaro gentio?Com desejo de ver-vos 'stá squentado;?Peramanca o vermelho senhorio?Vos tem s'enviuvaes apparelhado;?Que pois em dar seus bens sois brando e tenro,?Deseja de comprar-vos para genro.
XVII.
De Castella se veem n'essa morada?Agoas de duas c?res deleitosas,?Quando a nossa cidade está esgotada,?Inda que o gesso as faz menos gostosas;?C'o licor novo espera ser tirada?A reima das entranhas sequiosas,?Porque esse é o que aquenta a velha idade?Desterrando a agoa-pé d'esta cidade.
XVIII.
Mas em quanto com novo n?o me alento,?Reparti com os pobres que o desejam;?Ide largando d'elle, com intento?Que seus poucos reales vossos sejam.?Assi recolhereis o nosso argento,?E de todos aquelles que festejam?Por
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