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Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo I?by Alexandre Herculano
The Project Gutenberg EBook of Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo I
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Title: Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo I
Author: Alexandre Herculano
Release Date: June 22, 2005 [EBook #16111]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
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OPUSCULOS
POR
A. HERCULANO
SOCIO DE MERITO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE LISBOA SOCIO ESTRANGEIRO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE BAVIERA SOCIO CORRESPONDENTE DA R. ACADEMIA DA HISTORIA DE MADRID DO INSTITUTO DE FRAN?A (ACADEMIA DAS INSCRIP??ES) DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS DE TURIM DA SOCIEDADE HISTORICA DE NOVA YORK, ETC.
QUEST?ES PUBLICAS
TOMO I
LISBOA EM CASA DA VIUVA BERTRAND & C.a--CHIADO, N.o 73
M DCCC LXXIII
IMPRENSA NACIONAL
*ADVERTENCIA PRéVIA*
Havia annos que os meus velhos editores e amigos, os fallecidos Irm?os Bertrands, admiraveis typos dessa modesta austeridade e dessa nobre honradez, em todas as rela??es da vida civil, que eram gloriosa tradi??o da classe burguesa, e que a burguesia destes nossos tempos, ensanefada já de ouropeis fidalgos, n?o parece inclinada a manter com excessivo ciume; havia muito, digo, que os meus editores instavam comigo para que ajunctasse em volumes alguns opusculos, escriptos por mim e publicados por elles em diversas conjuncturas, cujas edi??es se achavam de todo esgotadas. Na sua opini?o, eu devia incluir tambem nessa collec??o outros opusculos, que, ou impressos avulsamente por minha conta, ou inseridos em publica??es periodicas, tinham feito certo ruido, e n?o se encontravam já no commercio. Entendiam igualmente que nesta compila??o de trabalhos sobre assumptos t?o variados poderiam introduzir-se quaesquer outros ainda ineditos, que me n?o parecessem indignos de virem a lume, o que, no seu modo de ver, daria certo realce á publica??o que se propunham, e em cujo exito confiavam.
Apesar das pondera??es que me faziam homens t?o experimentados nas cousas da imprensa, hesitei muito tempo em acceder aos seus intuitos. Após largos annos consumidos na vida agitada das letras, em que o meu baixel mais de uma vez fora a?outado por violentas tempestades, tinha, emfim, ancorado no porto tranquillo e feliz do silencio e da obscuridade. Olhava com uma especie de horror para as vagas revoltas da immensa lucta das intelligencias, contraste profundo da vida rural a que me acolhera. Depois, o espirito sentia bem a propria decadencia, cujos effeitos a interrup??o dos habitos litterarios devia aggravar. Reflectia, sobretudo, no tedioso de rever escriptos, parte dos quaes remontavam a tempos assás distantes. Podia, na verdade, devia talvez, deixá-los passar como estavam, no que respeita á maior ou menor exac??o das doutrinas, porque a pretens?o á infallibilidade é sempre ridicula no individuo, e eu nunca tive tal pretens?o; mas era indispensavel castigá-los em rela??o á fórma. O methodo, o estylo, a linguagem, as condi??es, em summa, da arte de escrever s?o, no mundo das letras, o que a boa educa??o, a cortesia, as atten??es, o respeito para com os usos recebidos s?o no tracto civil, o que os ritos s?o nas sociedades religiosas. No ente que cogita, a idéa póde e ha de variar com o decurso do tempo, com a amplia??o dos horisontes do pensamento. Sobrep?e-se gradualmente a verdade ao erro, e ainda mal que, outras vezes, é o erro que succede ao erro, quando n?o á verdade. Aprender quasi sempre é esquecer; affirmar quasi sempre é negar: esquecer o que aprendemos; negar o que nós proprios affirmámos. é por isso que, no meio de milh?es de duvidas, cada gera??o lega á que lhe succede poucas verdades incontrastaveis, e que a lentid?o do progresso real é um bem triste e desenganador dynamometro da t?o limitada potencia das faculdades humanas. N?o assim pelo que toca ás formulas externas das manifesta??es do espirito. O incompleto, o barbaro, o vicioso, o tolhido, o desordenado, o obscuro n?o s?o o revolutear do oceano das idéas: s?o simplesmente ignorancia ou pregui?oso desalinho, mais ou menos indesculpaveis.
Ora a revis?o de escriptos de t?o diversas epochas, ainda limitando-me ao exame da contextura e execu??o, repugnava-me. Era renovar o tracto com as letras no que ha nellas menos attractivo, na quest?o da fórma. E todavia, sem esse trabalho preliminar, n?o podia decentemente satisfazer os desejos dos meus editores, desejos que o ultimo d'elles, pouco antes de fallecer, ainda vivamente manifestava.
Mas, o que era na realidade esta repugnancia ao trabalho, embora fosse um trabalho ingrato? Era o egoismo dos annos derradeiros; o amor á quieta??o da intelligencia, que, no outono da vida, é em nós como o prenuncio da completa, da eterna paz. Para vencer esta enfermidade dos espiritos
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