O cancioneiro portuguez da Vaticana | Page 9

Teophilo Braga
como a dos documentos do fim do seculo
XV e principio do seculo XVI, proveniente de dois copistas, um que
escreveu as poesias, algumas rubricas e notas, outro a maior parte dos
nomes, as numerações e algumas postillas, contando ao todo 210 folhas.
Da descripção d'este cancioneiro conclue-se, pelo estado em que se
acha, que outro ou outros cancioneiros foram n'elle copiados ou
confrontados. A primeira nota que se depara ao abril-o é: "_Manca da
fol. IJ a fol. 43_;" isto quer dizer, que o cancioneiro foi copiado de um
outro codice que já se achava assim fragmentado, mas que mais tarde
foi confrontado com outro que estava completo, como veremos na
relação com o Indice de Colocci.
Ao começar o texto acha-se outra referencia: "_A fogli 90_" e segue-se
a canção de Fernão Gonçalves, o que parece significar, que n'este

cancioneiro existia outra disposição das poesias á qual se refere este
numero, que continúa a cotar successivamente outras canções,
entremeiando-se com numeros romanos, que parecem estabelecer
referencia a outro cancioneiro. Separemos estas duas ordens de
numeros, por onde deduzimos o confronto com dois cancioneiros; para
se localisar melhor a referencia que era de folhas e verso, indicaremos a
numeração actual das canções: Fol. 91 (canc. 8), 92 (canç. 11); _Fol. 97
desunt multa_ (canç. 43 fine); junto da canção 61, vem a sigla
_Desunt_; junto da 63 vem car. 106; junto da canção 299: _"Fol. 141
Al vo"_ (del volumen?); junto da canção 507 vem: "173 _a tergo"_ e
algumas canções com dois nomes de auctores, como Martin Campina
ou Pero Meogo, como forme a attribuição de um ou outro texto (canc.
796.). Por fim termina com esta outra rubrica: _"A fol. 290 è
cominciata una Rubrica e non è finita di copiare"_. Tudo isto prova,
que se fez o confronto d'este apographo existente cum um codice mais
completo, seguindo-se o confronto até á folha 300 d'esse codice
perdido.
O confronto do Codice por meio da numeração romana não prosegue
até ao fim; apenas se acha LXXXVJ junto da canção 4; LXXXVIIJ
junto da Canção 14; LXXXVIIIJ junto da canção 26 _fine;_ XCVJ
junto da canção 39 a 45; XCVIIJ coincide com a referencia anterior,
junto da canção 49; XCVIIIJ á canção 55; CXII á 62; CXIIIJ á canção
70; CXVIJ á canção 77. Esta numeração romana adianta-se aqui mais
do que a arabe, signal de que havia divergencia entre os dois codices
que serviam para confrontação com o apographo publicado. É certo
porem, que a numeração romana termina antes do corpo das canções de
el-rei Dom Diniz, d'onde se poderá inferir, que até esta parte contribuiu
um cancioneiro parcial, e que de Dom Diniz só entrava no que era
numerado em algarismos. Que existiam diversos cancioneiros, pelas
mesmas canções d'este codice se pode conhecer, como pela canção de
D. Affonso de Castella (canç. 76) em que allude ao Livro dos Sons, que
era um cancioneiro com que o Dayão de Cales seduzia as mulheres. Na
sua edição Monaci deixou apontados em um indice fundamental todas
as canções repetidas no cancioneiro, ou aquellas que mutuamente se
plagiavam. Da sua comparação se podem tirar poderosas inducções,
para se estabelecer quantos pequenos cancioneiros haviam servido para
formarem o cancioneiro grande, do qual o apographo publicado é uma

copia. É o que vamos tentar.
_Pequenos Cancioneiros que entraram na formação do Cancioneiro da
Vaticano_.--A canção 4, de Sancho Sanches, apparece repetida com
mais duas estrophes e assignada por Pero da Ponte, sob o numero 569;
a 2ª e 3ª strophes da versão de Pero da Ponte, faltam na canção de
Sancho Sanches. As strophes communs têm as seguintes variantes:
_Sazom foi já_, que me teve em desdem (n°. 4) Tal sazom foi, que me
teve em desdem (nº. 569).
_Que com'é mais j'agora_ seu amor (n°. 4) _Quando me mays forçava_
seu amor. (n°. 569).
E ora _já_ que pes'a mha senhor (n°. 4) E ora mal que pes'a mha senhor
(n°. 569).
Evidentemente estas duas canções foram colligidas de dois
cancioneiros parciaes, e elles mesmos escriptos em grande parte de
memoria.
A canção 13, de Mem Rodrigues Tenoyro, têm apenas uma estrophe,
mas repete-se sob o numero 319 com o nome do mesmo trovador e
com mais duas estrophes que a completam. Deve attribuir-se essa
divergencia ao ter sido colligida de dois cancioneiros, formado por
diversos collecctores.
A canção 29, assignada por João de Guilhade, repete-se sob o numero
38 com o nome do trovador Stevam Froyam; existem entre ellas leves
variantes, mas como estão immensamente deturpadas, só pelos dois
textos se reconstruem. Por este facto se vê, que houve compilação de
dois cancioneiros, e que o copista mal percebia a letra e fazia selecção
das canções.
A canção 116 e 174, do cancioneiro de Dom Diniz, são uma e mesma,
havendo entre
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