The Project Gutenberg EBook of O Livro de Cesario Verde, by Cesario
Verde
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Title: O Livro de Cesario Verde
Author: Cesario Verde
Release Date: August, 2005 [EBook #8698]
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[This file was first posted on August 2,
2003]
Edition: 10
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
0. START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK O LIVRO DE
CESARIO VERDE ***
Produced João Miguel Neves from images of the National Digital
Library project from the National Library of Portugal.
O LIVRO DE CESARIO VERDE
Prefácio
A JORGE VERDE
Aqui deponho em suas mãos e debaixo dos seus lábios o livro do seu
irmão. A minha «obra» terminou no dia em que elle saiu da nossa doce
amizade para a nossa terrível amargura: morri, meu querido
Jorge--deixe-me chamar assim ao irmão do meu querido
Cesario;--morri para as alegrias do trabalho, para as esperanças dos
enganos doces! O desmoronamento fez-se, a um tempo, no espírito e no
coração! Dos restos do passado deixe-me offerecer-lhe a dedicação
extremada: peça-me o sacrifício; e, quando no decorrer da vida, se
lembrar de nós, tenha este pensamento consolador:--A grande alma de
meu irmão soube impôr-se a um coração endurecido; e tenha este outro
pensamento: --Mas não estava de todo endurecido o coração que soube
amal-a.
Adeus, meu querido Jorge!
S.P.
20 de julho de 1886.
Encontrámo-nos pela primeira vez no Curso Superior de Lettras. Foi
em 1873. Cesario Verde marticulara-se no Curso em homenagem ás
Lettras, como se as Lettras lá estivessem--no Curso. Eu matriculara-me,
com a esperança de habilitar-me um dia á conquista de uma cadeira
disponivel. Encontrámo-nos e ficámos amigos--para a vida e para a
morte.
Para a vida e para a morte.
Tenho de fallar de mim, se eu pretendo fallar de Cesario Verde. Elle
não teve, desde aquelle dia--ha treze annos--maior amigo do que eu fui;
e sobre esta mesa onde eu estou escrevendo, ás 10 horas da noite d'este
formidavel dia glacial--20 de Julho de 1886, dia do seu enterro,--sobre
esta mesa onde eu estou escrevendo tenho estas palavras suas de ha
poucos dias:--«E como se dê o caso de tu seres o mais dedicado dos
meus amigos...» Tenho aqui essas palavras: ellas constituem a
justificação dos meus soluços de ha poucas horas, alli, no cemiterio
visinho onde elle dorme--o Cesario!--a sua primeira noite redimida...
Eu fui, pois, a luctar nas grandes batalhas da Desgraça, n'aquelle anno
para mim terrivel de 1874. Fui-me, a dezenas de leguas de Lisboa. Elle
ficou. E no dia em que eu medi forças com as avançadas do meu
destino, a inquietação invadiu o espirito e o coração de Cesario Verde,
por modo que já eu assoberbara com o meu desprezo a desventura
pertinaz e ainda elle não vingára libertar-se do peso de seus cuidados e
afflições. Durante annos escreveu-me centenares de
paginas--commentarios sobre os meus infortunios, conselhos do seu
espirito lucidissimo, sobresaltos do seu coração fraternal. Um dia,
trocámos estas palavras:--«Como tu tens tempo, meu amigo, para
soffrer tanto!»--«Como tu tens tempo, meu amigo, para me acompanhar
no soffrimento!».
É indispensavel ter conhecido intimamente Cesario Verde para
conhecel-o um pouco. Os que apenas lhe ouviram a phrase rapida,
imperiosa, dogmatica, mal podem imaginar o fundo de tolerancia
espectante d'aquelle bello e poderoso espirito. Elle tinha o furor da
discussão--a toda a hora. Eu careço de preparar-me durante horas para a
simples comprehensão. As exigencias do meu caro polemista
irritavam-me. Eu respondia ao acaso; mas acontecia por vezes que o
sorriso ligeiramente ironico do perseguidor expandia-se n'um bom e
largo sorriso de convencido; e então--meu querido amigo! meu santo
poeta!--elle saudava com um enthusiasmo de creança amoravel o que
elle chamava o meu triumpho! Não hesitava em confessar-se vencido; e
congratulava-se commigo--porque eu o vencera inconscientemente. A
generosa alma chamava áquillo a minha superioridade!
Os campos, a verdura dos prados e dos montes; a liberdade do homem
em meio da natureza livre: os seus sonhos amados; as suas realidades
amadas! Quando
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