nescia a Hespanha, Que contra nós se atreva a mover guerra? N?o ha de inda lembrar-se o seu Monarcha, Que te deve os Dominios que possue? Que ha bem pouco, cercado de inimigos, Vendo nas m?os o Sceptro vacillante, Mandou a propria Esposa, filha tua, A implorar-te que fosses soccorre-lo, Ou antes sobre o Throno sustenta-lo? E que do filial pranto commovido, N?o contente em mandar-lhe tuas Tropas, Tu proprio á testa dellas generoso Quizeste ir debellar seus inimigos, E segurar-lhe a C'roa na cabe?a? Ha de offender quem soube defende-lo! Quem pode, apenas queira, anniquila-lo? N?o; quem vio pelejar, ao teu commando Nas margens do Salado os Portuguezes, A atacar Portuguezes n?o se atreve; E se o tanto chegar a sua insania, á maneira dos seus antepassados, Chorando o opprobrio de ficar vencido, Caro lhe custará seu louco arrojo. Oxalá que elle á guerra nos convide! Poderia teu filho ent?o mostrar-te, Que te sabe imitar quando he preciso, Novos louros cingindo ao teu Diadema.
Af. Que desatino! Oh Ceos!.. Eu me envergonho De te haver dado o ser: de te ouvir tremo... Tristes Vassallos meus, amados filhos, Que Monarcha vos deixo sobre o Throno! Tu desejas a guerra? Esse flagello, Que envergonha, e devasta a Humanidade? O capricho dos Reis que imposta aos Povos? Ouve as li??es de hum Pai, posto que iroso Só devêra tractar do teu castigo. Eu n?o posso deixar quando te escuto, De reprender-te, ó filho, e de ensinar-te: Talvez por ti mandado á sepultura, Bem depressa no Throno me succedas; N?o te esque?as ent?o dos meus dictames: Poupa o sangue dos miseros Vassallos, Do mais infimo delles préza a vida Outro tanto que a tua; teme a guerra, Que ao proprio vencedor sempre he funesta: No meio do triunfo os bons Reis chor?o. Nessa mesma t?o célebre batalha, Que julgas me cingio de louro eterno, Quando juncav?o do Salado as margens Os mont?es de cadaveres sem conto De infieis derrotados inimigos; Por perder trinta só dos meus Soldados, Muito cara julguei esta victoria, E, dentro de mim proprio recolhido, Mais pranto derramei, do que elles sangue. Os Reis devem ser Pais de seus Vassallos; Nada mais que o seu bem deve importar-lhes... Elle exige estas nupcias, que te ordeno; Suas vozes escuto, e n?o as tuas. Já te disse que dei minha palavra, E torno-te a dizer que has de cumpri-la. Affonso he teu Monarcha: mando, e basta. Hoje mesmo comigo para a Corte Vê que deves partir, vai preparar-te.
Ped. Teus passos seguirei, porém debalde... Celebrar o consorcio que pertendes... Quizera obedecer-te, mas n?o posso... Sem que te diga mais, assaz te digo.
SCENA II.
D. Affonso só.
He possivel, oh Ceos, que assim meu filho Temerario resista aos meus preceitos!.. Que cegueira! Que arrojo! He necessario Desarraigar-lhe d'alma por violencia A funesta paix?o que o traz de rojo: Mas de que modo?.. Cumpre medita-lo... Seja em fim como for, desempenhado Meu Tratado ha de ser: o ingrato filho, Em vez de hum Pai benigno, hum Rei severo Ha de encontrar em mim. Oh lá, D. Nuno.(13)
(13) Chamando.
SCENA III.
D. Affonso, e D. Nuno.
Nun. Que me ordenas, Senhor?
Af. ....................... Os Conselheiros Vai chamar... mas espera, ahi vem Pacheco.
SCENA IV.
D. Affonso, Pacheco, e D. Nuno.
Af.(14) Quem tal dissera, Amigo! Eu me envergonho Sómente de o pensar: o iroso aspecto De hum Monarcha, de hum Pai, raz?es, amea?os Nada bastante foi: ousa o rebelde ás nupcias recusar-se, aos meus preceitos; Mas ha de obedecer-me, aos Ceos o juro. Os meios estudemos, que efficazes A sua contumacia vencer poss?o: Se necessario for, inexoravel, Rigoroso serei.
(14) D. Affonso se dirige a Pacheco, e D. Nuno se afasta para o fundo da Scena.
Pach. ......... Dever funesto He, Senhor, na verdade, o de hum Vassallo, Que fiel ao seu Rei, bem que sensivel, Na precis?o se vê de supplicar-lhe, Que suffoque a piedade, e que castigue... Mas o int'resse do Estado, e mais que tudo O decoro do Throno assim o exigem. De incorrupta lealdade claras provas Eu protesto dar sempre ao Rei, e á Patria. Longe de desculpar, porque he teu filho, Do Principe a Paix?o, funesta origem Da sua contumacia; com franqueza Direi meus sentimentos, sem que possa Tolher-me as express?es o temor justo De perder o favor, de ser odiado De hum Principe que adoro, e que respeito. Se queres que teu filho te obede?a, Corta a indigna priz?o que maniatado O cora??o lhe traz, e que o estorva De entrar em seus deveres: pune, extingue Esse objecto fallaz que a alma lhe encanta: De contrario, Senhor, ser?o baldados Outros meios quaesquer que projectares.
Af. Seja punida, sim, seja punida Mulher que tantos males origina; Que impera mais do que eu, e que se atreve A usurpar-me do filho a obediencia. Seu crime... Mas que digo!.. por ventura N?o he meu filho mais
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