Marilia de Dirceo | Page 2

Tomás António Gonzaga
tomou as varias f��rmas?De General de Thebas, velha, e touro,?O proprio Deos da Guerra deshumano
N?o viveo de amor illeso;?Quiz a Venus, e foi prezo?Na rede, que lhe armou o Deos Vulcano.
Se amar huma belleza se desculpa?Em quem ao proprio Ceo, e terra move;?Qual he a minha gloria, pois igualo,?Ou excedo no amor ao mesmo Jove??Amou o Pai dos Deoses Soberano
Hum semblante peregrino:?Eu adoro o teu divino,?O teu divino rosto, e sou humano.
LYRA IV.
Marilia, teus olhos?S?o r��os, e culpados,?Que soffra, e que beije?Os ferros pezados?De injusto Senhor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Mal vi o teu rosto,?O sangue gelou-se,?A lingoa prendeo-se,?Tremi, e mudou-se?Das faces a c?r.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
A vista furtiva,?O risco imperfeito,?Fizer?o a chaga,?Que abriste no peito?Mais funda, e maior.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Dispuz-me a servir-te;?Levava o teu gado?�� fonte mais clara,?�� vargem, e prado?De relva melhor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Se vinha da herdade,?Trazia nos ninhos?As aves nascidas,?Abrindo os biquinhos?De fome ou temor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Se alguem te louvava?De gosto me enchia;?Mas sempre o ciume?No rosto accendia?Hum vivo calor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Se estavas alegre,?Dirceo se alegrava;?Se estavas sentida,?Dirceo suspirava?�� for?a da dor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Fallando com Laura,?Marilia dizia;?Surria-se aquella,?E eu conhecia?O erro de amor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Movida, Marilia,?De tanta ternura,?Nos bra?os me d��ste,?Da tua f�� pura?Hum doce penhor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Tu mesma disseste?Que tudo podia?Mudar de figura;?Mas nunca seria?Teu peito traidor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Tu j�� te mudaste;?E a Olaia frondoza,?Aonde escreveste?A jura horrorosa,?Tem todo o vigor.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
Mas eu te desculpo,?Que o fado tyranno?Te obriga a deixar-me;?Pois busca o meu damno?Da sorte, que for.
Marilia, escuta?Hum triste Pastor.
LYRA V.
A caso s?o estes?Os sitios formosos,?Aonde passava?Os annos gostosos??S?o estes os prados,?Aonde brincava,?Em quanto pastava?O manso rebanho,?Que Alceo me deixou?
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.
Daquelle penhasco?Hum rio cahia,?Ao som do sussurro?Que vezes dormia!?Agora n?o cobrem?Espumas nevadas?As pedras quebradas:?Parece que o rio?O curso voltou.
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.
Meus versos alegre?Aqui repetia:?O Eco as palavras?Tres vezes dizia.?Se chamo por elle?J�� n?o me responde;?Parece se esconde,?Cansado de dar-me?Os ais que lhe dou.
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.?Aqui hum regato?Corria sereno,?Por marg[~e]s cobertas?De flores, e feno:?�� esquerda se erguia?Hum bosque fechado;?E o tempo apressado,?Que nada respeita,?J�� tudo mudou.
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.
Mas como discorro??Acaso podia?J�� tudo mudar-se?No espa?o de hum dia??Existem as fontes,?E os freixos copados;?D?o flores os prados,?E corre a cascata,?Que nunca seccou.
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.
Minha alma, que tinha?Liberta a vontade,?Agora j�� sente?Amor, e saudade.?Os sitios formosos,?Que j�� me agrad��r?o,?Ah! n?o se mud��r?o!?Mud��r?o-se os olhos,?De triste que estou.
S?o estes os sitios??S?o estes; mas eu?O mesmo n?o sou.?Marilia, tu chamas??Espera que eu vou.
LYRA VI.
Oh! quanto p��de em n��s a varia Estrella!?Que diversos que s?o os genios nossos!
Qual solta a branca v��lla,?E affronta sobre o pinho os mares grossos.?Qual cinge com a malha o peito duro;?E marchando na frente das cohortes,?Faz a toare voar, cahir o muro.
O sordido avarento em v?o trabalha,?Que possa o filho entrar no seu Thesouro.
Aqui fechado estende?Sobre a taboa, que verga, as barras de ouro.?Sacode o jogador da copo os dados;?E n'uma noite s��, que ao somno rouba,?Perde o resto dos bens do pai herdados.
O que da vor��z gulla o vicio adora?Da lauta meza os prazeres fia.
E o terno Alceste chora?Ao som dos versos a que o genio o guia.?O sabio Gallileo toma o compasso,?E sem voar ao Ceo, calcula, e mede?Das Estrellas, e Sol o immenso espa?o.
Em quanto pois, Marilia, a varia gente,?Se deixa conduzir do proprio gosto;
Passo as horas contente?Notando as gra?as do teu lindo rosto.?Sem cansar-me a saber se o Sol se m��ve,?Ou se a terra voltea, assim conhe?o.?Aonde chega a m?o do grande Jove.
Noto, gentil Marilia, os teus cabellos;?E noto as faces de Jasmins, e rosas:
Noto os teus olhos bellos;?Os brancos dentes, e as fei??es mimosas.?Quem fez huma obra t?o perfeita, e linda,?Minha bella Marilia, tambem p��de?Fazer os Ceos, e mais, se ha mais ainda.
LYRA VII.
Vou retratar a Marilia,?A Marilia meus amores;?Por��m como, se eu n?o vejo?Quem me empreste as finas cores!?Dar-mas a terra n?o p��de;?N?o que a sua c?r mimosa?Vence o lyrio, vence a rosa:?O jasmim, e as outras flores.
Ah soccorre, Amor, soccorre?Ao mais grato empenho meu!?V?a sobre os Astros, v?a,?Traze-me as tintas do Ceo.
Mas n?o se esmore?a logo;?Busquemos hum pouco mais;?Nos mares talvez se encontrem?Cores que sej?o iguaes.?Por��m n?o, que em parallelo?Da minha Ninfa adorada?Perolas n?o valem nada,?N?o valem nada os coraes.
Ah soccorre, Amor, soccorre?Ao mais grato empenho meu!?V?a sobre os Astros, v?a,?Traze-me as tintas do Ceo.
S�� no Ceo achar se podem?Taes bellezas, como aquellas,?Que Marilia tem nos olhos,?E que tem nas faces bellas.?Mas ��s faces graciosas,?Aos negros olhos, que mat?o,?N?o imit?o, n?o retrat?o?Nem Auroras, nem Estrellas.
Ah soccorre, Amor, soccorre?Ao mais grato empenho
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