Lyra da Mocidade | Page 2

Faustino Fonseca Júnior
harpas geniaes,?Por virgens d'olhar meigo e loiras tran?as,?Vinham threnos sublimes, ideaes.
O mundo todo pleno d'harmonia.
Eu, só, fitava a solid?o do mar?Dominado d'ideal melancolia.
E que buscava ent?o na immensidade?
é que me vinha fundo cruciar?O acerado espinho da saudade!
Algés, 1890
+ESPERAN?A+
Fitei o teu retrato tristemente
Cansado do trabalho, sem alento,?O espirito meu n'esse momento?Soffria acerbamente, amargamente.
Comtemplei-o e dei-lhe um beijo ardente
Para desafogar o sofrimento,?Pareceu-me que sorrias, pensamento?Que me passou no cerebro latente.
E fui abandonado pl'a tristeza,
Recobrei para a lucta mais vigor?Trabalharei tenaz e com firmeza.
Vou-me tornar estoico contra a dor.
Eu vi n'esse sorrir de tal belleza?A firme espr'an?a d'um eterno amor!
Lisboa, 1891
+á MEMORIA
DE
ALFREDO LOPES+
Viver! O que é viver! Arrastar a existencia
No vasto labyrintho onde só reina a dor;?N'um pouco de materia é guia a consciencia?Quasi a perder-se a for?a, a faltar o valor.
Morrer! Passar além! Da lucta repousar,
Deixar por uma vez do mundo as agonias;?Descer á terra m?e, os lyrios fecundar,?Servir de refei??o aos vermes nas orgias.
Mas coisa alguma nasce e coisa alguma morre.
Transforma-se a materia em mil combina??es:?Seiva, no vegetal as hastes lhe percorre;?Sangue, faz palpitar os nossos cora??es.
Tu ent?o n?o morreste; apenas d'esta lida
Immensa, em que mostraste o fulgido talento,?Descan?as. No teu corpo ha ainda essa vida?Que palpita da terra ao proprio firmamento.
A vida da materia. Ent?o bellas, formozas,
Por cima d'essa campa onde agora repouzas,?H?o-de brotar de ti as lindas flores vi?osas?Na vaga poesia harmonica das cousas.
Rosas a recordar teu risonho futuro,
A tua juventude os cravos em bot?o,?O martyrio o finar na d?r t?o prematuro,?O cypreste a lembrar teu grande cora??o!
Angra do Heroismo,?9-9-88
+A REVOLU??O+
Campeia a tyrania, esmaga, oprime,
E da vontade o despota faz lei,?Do povo a justa voz cala, reprime,?Ou dictador, ou presidente, ou rei.
Calca aos pés os direitos mais sagrados
E trucida os que querem reagir,?Apoiam-n'o as bayonetas dos soldados?N?o teme pois da plebe o rebramir.
Mas de repente os odios comprimidos
Estalam sanguinosos, em rugidos,?Irrompem como a lava do vulc?o,
Fazem voar o throno em estilha?os,
A liberdade imp?e com rudes bra?os,?é a tua grande obra--Revolu??o--
Lisboa 1891
+ASPIRA??ES+
Oh! Quem me dera beijar-te
A tua face rosada,?Esses labios de carmim.?Oh! Quem podesse abra?ar-te?E gozar, ó gentil fada,?Caricias ternas, sem fim.
Quem podesse contra o seio
Estreitar-te e essa boquinha?Sorvel-a n'um beijo quente,?E sentir-te em devaneio?Palpitar, gosar, louquinha,?Caricias de amor ardente.
Desprezando os preconceitos
Sellemos com esse amor?Potente da nossa edade,?Estreitando os nossos peitos,?Em plena vida d'amor,?Mil juras de felicidade!
Que dizes, linda, pois córas?
Antegosas as delicias??Suspiras rubra de pejo??Ou na tua mente infloras?Esses milh?es de caricias?O amoroso d'um beijo?
Pois bem, gozemos, meu anjo,
E sejamos sempre queridos?Um do outro, minha fl?r,?E das delicias o archanjo?Venha achar nos sempre unidos?Gozando do nosso amor!
Angra do Heroismo,?1892
+OS CREPES DE CAM?ES+
Portugal jáz por terra! Esta patria querida
Dos fortes, dos heroes, dos rudes marinheiros,?Esta na??o valente, homerica, aguerrida?Que soube recha?ar outr'ora os estrangeiros,
Jáz por terra abatida! A bandeira de gloria
Que fulgurou ovante ao sol de cem combates?E sempre ha-de brilhar, aqui, em toda a historia?Que foi desde o Brazil ás regi?es do Gates.
Hoje roja-se no pó! De tudo o que tivemos
De brio, heroicidade, altivez e coragem?Nada nos resta já! Parece que viemos?Perdendo tudo, tudo, em funebre viagem!
A propria honra se foi! Um insulto cruel
Fez agitar um dia o loda?al enorme,?Houve gritos de raiva, amarguras de fel?Mas já tudo passou! E o povo dorme... dorme!
O derradeiro arranco! Ao pobre muribundo
N?o resta d'esperan?a um lampejo fugaz,?Hoje existe sómente a mostrar-nos ao mundo?Um sepulcro marmoreo, um funebre _aqui jaz_.
Synthetizou outr'ora um esperan?oso ideal
Em honra do cantor das nossas tradic??es,?Hoje existe de pé por sobre o tremedal?Um symbolo de morte:
O lucto de Cam?es!
Lisboa, 11-1-91
+A BORDO+
Vamos no alto mar, a noite lentamente
Encobre pouco a pouco a abobada celeste;?Ha pallidos clar?es das bandas do occidente?E sopra uma rajada aguda de Nordeste.
Corre a todo o vapor, com impeto potente
O navio rasgando a superficie agreste?Do gigantesco oceano. As ondas febrilmente?Tem o tom verde-negro e triste do cypreste.
Só vemos ceo e mar, o horizonte enorme,
Cercados pelo gigante immenso que n?o dorme?No monotono circo é plena a solid?o.
N'essa tremenda lucta o pensamento humano
Mostra pujantemente, ao dominar o oceano,?Um cerebro o que vale! o que é um cora??o!
A bordo do _Funchal_,?1891
+ROZA EM BOT?O+
1. E. S.
Que lindo bot?o de rosa,
Oh! como é bella esta fl?r,?E tens inda mais valor?Por seres offerta amoroza.
Gentil, risonha e mimoza
Elvira imitas na c?r;?Ella é pura como a fl?r?E tu como ella és formoza.
Mas, apesar da parecen?a,
Sempre existe uma differen?a?Em que te distingues d'ella;
é que a roza tem espinhos,
Elvira ternos carinhos,?Que a tornam inda mais bella.
Angra do Heroismo,?1892
+TEMPESTADE E BONAN?A+
Soprava rijamente o vento Norte
E caía um terrivel aguaceiro;?Enorme escurid?o, lembrava a morte...?Mas n?o descria o rude marinheiro!
Rugia o mar e ao soffrer o corte
Da pr?a revoltava-se altaneiro,?Varria o tombadilho. Sempre forte?Ia o vapor correndo audaz, ligeiro.
Echoava o trov?o. Mas de repente
Ao vendaval succede-se a bonan?a,?O nevoeiro esvae-se lentamente,
A chuva pára, o oceano amansa;
O sol mostra seu disco reluzente,?Nos rostos pairam os sorrires d'esp'ran?a.
Lisboa 1891.
+AS ESTRELLAS+
Da minha alegre janella
Vejo uma nesga do ceo;?é noite serena, bella,?Espaire?o o olhar meu,
A
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