porque soltou um gemido agudo e prompto, como se o houvessem tocado com um ferro em braza.
E empurrando com a cabe?a D. Inigo, voltou a anca para a grade.
Pan!--foi o som que se ouviu. Com um s�� couce a reixa estava no ch?o, e as hombreiras de pedra tinham voado em mil rachas. Quer m'o creiam quer n?o, di-lo a historia: eu com isto n?o perco nem ganho.
D. Diogo, esse ficou-o crendo; porque uma lasca de pedra bateu-lhe nos dous ultimos dentes que tinha, e metteu-lh'os pela goela abaixo. Por isso elle com a d?r n?o podia dizer palavra.
Seu filho f��-lo cavalgar ante si, e cavalgando ap��s elle, bradou:--Meu pae, estaes salvo!"
E Pardalo de um pulo galgou de novo o palanque. Pois tinha bons quinze palmos!
Pela manhan n?o havia signal de chuva; o ar estava limpo e sereno, e quando os mouros foram v��r o que succed��ra a D. Diogo Lopes, n?o lhe acharam sequer o rasto.
6
D. Inigo e seu pae, o velho senhor de Biscaia, passam as portas de Toledo com a rapidez da frecha: n'um abrir e fechar d'olhos ficam-lhe para traz muros, torres, barbacans e atalaias. A batega vae diminuindo: rasgam-se as nuvens, e v��em-se j�� reluzir algumas estrellas, que parecem outros tantos olhos com que o c��u espreita atrav��s do negrume o que se passa c�� em baixo.
A estrada, pelas descidas e subidas dos recostos, converteu-se em leito de torrente, nos plainos converteu-se em lago.
Mas pelos lagos e torrentes o valente onagro rompia ��vante, bufando como um damnado.
N?o subiram bem um monte, j�� descem pelo outro recosto abaixo; ainda bem n?o chegaram a uma clareira, j�� sentem em profunda floresta gotejarem-lhes em cima os ramos agitados das arvores.
Pouco mais �� de meia-noite, e os topos nevados do Vindio recortam o ch?o estrellado do c��u j�� limpo, semelhantes aos dentes de uma serra gigante capaz de dividir c��rceo o hemispherio austral do hemispherio boreal.
E Pardalo investe sempre em galope desfeito com as montanhas disformes, e desce aos valles temerosos, e cada vez mais ligeiro, como o seu nome o indica, parece menos quadrupede que passaro.
Mas que ruido �� esse que sobreleva ao do vento? Que �� isso que, l�� ao longe, ora alveja ora reluz nas trevas, como uma alcateia de lobos involtos em sudarios brancos, com os olhos s�� descobertos, e despregando em fio pelo fundo do valle abaixo?
�� um rio caudal e furioso, com o seu manto de escuma, e com as escamas angulosas de seu dorso eri?ado, onde batem e chispam os raios das estrellas em mil reflexos quebrados.
Negreja sobre o rio uma ponte, ao meio desta um vulto esguio.--"Ser�� um marco, uma estatua?"--pensaram os cavalleiros. Pinheiro n?o p��de ser: n?o consta que em taes sitios nas?am.
Pardalo ria-se de rios; pontes, fazia tanto cabedal dellas como de um retra?o de palha. Todavia, bem que podesse de um pulo salvar vinte ribeiras como aquella, foi-se direito �� ponte; porque n?o era animal que fizesse africas escusadas.
Semelhante a relampago se arrojou o onagro ��quelle passo estreito... Mas, t��!... Ei-lo que de repente p��ra.
E tremia como varas verdes, e arquejava com violencia: os dous cavalleiros olharam.
O vulto esguio era um cruzeiro de pedra alevantado a meia ponte: por isso Pardalo emperrava.
Ent?o d'entre uns altos choupos, que da margem d'al��m se meneavam, um pouco mais abaixo daquelle sitio, ouviu-se uma voz fadigosa e tr��mula que cantava:
Para traz, para traz, a galgar. J��! De redor, de redor vem passar C��! Que n?o ha nada aqui que te empe?a! Buz, Nem palavra, v��s dous! Fugi dessa Cruz!
"Sancto nome de Christo!"--exclamou D. Diogo benzendo-se ao escutar aquella voz que bem conhecia, mas que depois de tantos annos n?o esperava alli ouvir, porque seu filho n?o lhe dissera que meio ach��ra para o salvar.
Apenas o grito do velho soou, assim elle como D. Inigo foram bater contra o poyal do cruzeiro, onde ficaram de bru?os, involtos em lodo. O onagro ao sacudi-los de si solt��ra um rugido de besta-fera. Sentiram ent?o um cheiro intoleravel de enxofre e de carv?o de pedra inglez, que logo se percebia ser cousa de Satanaz.
E ouviram como um trov?o subterraneo; e a ponte balan?ava como se as entranhas da terra se despeda?assem.
Apesar do seu grande terror, e de clamar pela Virgem Santissima, D. Inigo abriu um cantinho do olho para v��r o que se passava.
N��s os homens costumamos dizer que as mulheres s?o curiosas. N��s �� que o somos. Mentimos como uns desalmados.
Que veria o cavalleiro? Um fojo aberto bem proximo delle sobre a ponte, e que depois rompia pela agua.
E depois pelo leito do rio; e depois pela terra dentro, dentro; e depois pelo tecto do inferno, que outra cousa n?o podia ser um fogo muito vermelho que reverberava daquella profundidade.
Tanto era assim, que ainda l�� viu passar de relance um demonio com um desconforme espeto

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