Epistola de Heloysa a Abaylard | Page 5

Alexander Pope
Hospedes, doces, ternos Em meu Cora?a? entrai; E a hum eterno repouzo Minh'alma aflicta entregai. Sobre o tumulo estendida Triste Heloiza pondera Como hum bem que ja no Mundo Somente dezeja, e espera.... Que escuto! Que som he este! Ser�� dos Ventos rugido? Ou ser�� voz que me chama, Que julgo ja ter ouvido? N'huma noute, em que eu vellava: As alampedas sombrias, Que estendem seus frouxos raios Em torno das Campas frias; Os lumes quaze expirantes, Me figura a fantezia Profunda voz subterranea, Que d'hum sepulcro surgia, Exclamando--"Triste Irman, Eis aqui o teu lugar, Este o azilo que deves Eternamente ocupar; Como tu fui algum dia Huma victima de Amor, Tremi, orei, devorando A mais tormentoza d?r; So neste perpetuo sonno Pude o repouzo encontrar; So aqui os desgra?ados Se deixa? de lastimar Cessa? dos tristes Amantes Os dolorozos clamores, E perde a supersti?a? Os seus lugubres temores; Porque hum Deos mais indulgente, Que o Mortal se persuade, Benignamente perdoa A humana fragilidade." Eu corro, eu corro, que os Anjos Os seus bersos rescendentes De fino aroma preparem, E as palmas sempre virentes; Eu corro onde os Pecadores Podem repouzo encontrar; E os Justos de chamas puras Seus Cora?oens inflamar: Charo Abaylard, me difere Pias honras luctuozas; Vem ado?ar-me a passagem ��s Moradas Gloriozas; V�� os meus labios convulsos, Meus olhos immoveis cerra, Recolhe o final suspiro; Que minh'alma dezencerra... Porem na?... Antes pertendo De tua ma? vacilante Co'as sacras Vestes cingido Huma vella agonizante: Of're?e a cruz a meus olhos; Que pertendo aos Ceos volver, Ensiname, e ao mesmo tempo De mim aprende a morrer; Olha enta? esta Heloyza, Que tanto chegaste a amar, Quando na? he ja hum crime O seu rosto contemplar; Em lividez convertidas As rozas do meu semblante, Ja eclipsado nos olhos Da vida o verniz brilhante; Toma minha ma?, e aperta Th�� que cesse o respirar, Que extincta minha existencia, Eu deixe emfim de te amar... Quanto es eloquent', oh Morte, So tu d��s li?a? preciza, Que he louca a paixa? profana, Que hum mero p�� diviniza. Vir�� tempo, em que este objecto, Que me vence, e me domina Na materia organizada Sofrer�� total ruina! Praza aos Ceos, que estas angustias Do trance da vida �� morte Por hum Extasi Divino Teu sofrimento conforte: Anjos em nuvens brilhantes Baixem do Ceo desvellados, E seja? dos Ceos abertos Raios de gloria emanados; E os Celestes Moradores, Saudando tu'alma pura, Te abracem c'hum mesmo afecto Igual �� minha ternura. Hum mesmo marmore possa Os nossos nomes conter; E immortal minha paixa?, Qual tua fama fazer; Enta? se em fuctura idade Dous Amantes viajando; E do Paraclito as fontes Com devo?a? procurando; Unindo suas cabe?as Para ler nossa Inscrip?a? Bebendo seu mutuo pranto Co'a mais viva compaixa?. "Praza aos Ceos, que em nosso Amor, Ambos dira? transportados, A sorte na? imitemos De Amantes ta? desgra?ados." Que enternecidos seria?! E o que ��s Aras s'of'recendo, Inda na pompa solemne Do sacreficio tremendo; Que como?a? sentira, Se os olhos seus dirigir Sobre o piedozo Sepulcro Que nossas cinzas cobrir! Por hum instante deixando O Ceo, do pranto assaltado, Seo movimento de d?r Logo ser�� perdoado. Se o Destino a algum Poeta Da mesma sorte afligisse Que hum pezar igual ao meu Na su'alma pressentisse; Que a chorar annos inteiros Elle fosse condemnado Os encantos que perdera Auzente o seu Bem amado. A considerar de continuo Na imagem que o faz arder, Aflicto sem esperan?a De mais a tornar a ver. Se ao meu excessivo Amor O seu Amor igualar Escreva a funesta Historia De Heloyza, e de Abaylar. Aquelle que mais piedozo Nossos infortunios sente Este o Genio, aquem he dado, Cantallos mais dignamente.
FIM.
GUILHERME LANE, RUA DE LEADENHALL.

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