Elegias | Page 4

Teixeira de Pascoais
regressou?Ao seu velhinho estado anterior.
E esta saudosa casa, onde brilhou?Tua voz num instante sempiterno,?Em negra, intima noite se occultou.
Quando chego �� janela, vejo o inverno;?E, �� luz da lua, as sombras do arvoredo?Lembram as sombras p��lidas do Inferno.
Dos recantos escuros, em segredo,?Nascem Vis?es saudosas, diluidos?Tra?os da tua Imagem, arrem��do
Que a Sombra faz, em gestos doloridos,?Do teu Vulto de sol a amanhecer...?A Sombra quer mostrar-se aos meus sentidos...
Mas eu que vejo? A luz escurecer;?O imperfeito, o indeciso que, em n��s, deixa?A amargura de olhar e de n?o v��r...
A voz da minha d?r, da minha queixa,?Em v?o, por ti, na fria noite clama!?Dir-se-�� que o c��u e a terra, tudo fecha
Os ouvidos de pedra! Mas quem ama,?Embora no silencio mais profundo,?Grita por seu amor: �� voz de chama!
E eu grito! E encontro apenas sobre o mundo,?Para onde quer que eu olhe, aqui, al��m,?A tua Ausencia tragica! E no fundo
De mim proprio que vejo? Acaso alguem??S�� vejo a tua Ausencia, a Desventura?Que fez da noite a imagem de tua M?e!
A tua Ausencia �� tudo o que murmura,?E mostra a face triste �� luz da aurora,?E se espraia na terra em sombra escura...
Quem traz o outomno ao meu jardim agora??Quem muda em cinza o fogo do meu lar??E quem solu?a em mim? Quem �� que chora?
�� a tua Ausencia, Am?r, que vem turbar?Esta alegria et��rea, nuvem, asa?De Anjo que, ��s vezes, passa em nosso olhar!
O Sol �� a tua Ausencia que se abrasa,?A Lua �� tua Ausencia enfraquecida...?Da tua Ausencia �� feita a minha vida?E os meus versos tambem e a minha casa.
TRAGICA RECORDA??O
Meu Deus! meu Deus! quando me lembro agora?De o ver brincar, e avisto novamente?Seu pequenino Vulto transcendente,?Mas t?o perfeito e vivo como outrora!
Julgo que ele ainda vive; e que, l�� f��ra,?Fala em voz alta e brinca alegremente,?E volve os olhos verdes para a gente,?Dois ber?os de embalar a luz da aurora!
Julgo que ele ainda vive, mas j�� perto?Da Morte: sombra escura, abysmo aberto...?Pesad��lo de treva e nevoeiro!
�� vis?o da Crean?a ao p�� da Morte!?E a da M?e, tendo ao lado a negra sorte?A calcular-lhe o golpe trai?oeiro!
IDILIO
Sinto que, ��s vezes, choras, minha Irm?,?No teu sombrio quarto recolhida...?�� que ele vem rompendo a sombra v??Da Morte, e lhe aparece �� luz da vida!
E afflicta, como choras, minha Irm?...?Teu ch?ro �� tua voz emudecida,?Ante a imagem do Filho, essa Manh??Em profunda saudade amanhecida.
Silencio! N?o palpites, cora??o;?Nem canto de ave ou mistica ora??o?Um tal idilio venham perturbar!
Deixae o Filho amado e a M?e saudosa:?O Filho a rir, de face carinhosa,?E a M?e, t?o triste e p��lida, a chorar...
DE NOITE
Quando me deito ao p�� da minha d?r,?Minha Noiva-phantasma; e em derredor?Do meu leito, a penumbra se condensa,?E j�� n?o vejo mais que a noite imensa,?Ante os meus olhos intimos, ac��sos,?Extaticos, surpr��sos,?Aparece-me o Reino Espiritual...?E ali, despido o habito carnal,?Tu brincas e passeias; n?o comigo,?Mas com a minha d?r... o am?r antigo.
A minha d?r est�� comtigo ali,?Como, outrora, eu estava ao p�� de ti...?Se f?sse a minha d?r, com que alegria,?De novo, a tua face beijaria!
Mas eu n?o sou a d?r, a d?r et��rea...?Sou a Carne que soffre; esta miseria?Que no silencio clama!
A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...
NOITES EM CLARO
Passas em claro as noites a chorar;?Dia a dia, teu rosto empalidece...?Faze tu, pobre M?e, por serenar,?Santa Resigna??o sobre ela desce!
Rochedo que a penumbra desvanece,?Tu, por acaso, n?o lhe podes dar?Um pouco d'esse frio que entorpece?O cora??o e o deixa descan?ar?...
Jamais! N?o ha remedio! Nem as horas?Que passam! Toda a fria noite choras;?Tua sombra, no ch?o, �� mais escura.
Soffres! E sinto bem que a tua d?r,?Como se f?ra um beijo, ac��so am?r,?Vae-lhe aquecer, ao longe, a sepultura.
DUAS SOMBRAS
Pelas tardes divinas,?Quando a c?r se dissolve em lagrimas doiradas,?Eu vejo duas Sombras pequeninas,?Andando de m?os dadas.?Como duas crean?as que elas s?o,?Percorrem, a brincar,?Esta minha infinita solid?o;?E extatico e suspenso, eu fico a olhar, a olhar...?Bate-me o cora??o; caminho... Na distancia,?Atrav��s do crepusculo divino,?Vejo a Sombra infantil da minha infancia?E a Sombra do Menino!?E d'elas me aproximo; e paro; tenho m��do?De as v��r fugir, assim...?Seus Vultos de chimera e de segr��do?Tremem deante de mim...?E como se parecem!?O mesmo adeus no olhar, o mesmo r?sto e altura...?E ao p�� d'elas as cousas se enternecem,?E este meu cora??o aberto em sepultura.
Durante a tua vida, meu Am?r,?Quantas vezes, ao ver-te, imaginava?Olhar de perto, a minha infancia toda em fl?r!?E ainda mais: pensava?Que eras a minha propria Infancia novamente,?Mesmo deante de mim, resuscitada?E brincando comigo alegremente,?N'esta velha Paisagem bem amada,?Terra da meia noite, alma do outomno...?N'esta casa velhinha, evocadora,?Tocada de luar, de sombra e de abandono,?Da alegria de outrora...?E por isso, no dia em que morreste,?Quando tudo era lagrima, a distancia,?Cora??o, duas cruzes padeceste;?Duas mortes soffreu a minha infancia.
LAGRIMA
Bate-me o luar na face, e o meu olhar?Em lagrima saudosa se condensa...?Vejo-a deante de mim, como suspensa?Na sombra do ar.
E em seu liquido seio
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