cantava!?Nessas horas divinas, quem diria?A sorte que já Deus te destinava!
O QUE EU SOU
Nocturna e dubia luz?Meu sêr esbo?a e tudo quanto existe...?Sou, num alto de monte, negra cruz,?Onde bate o luar em noite triste...
Sou o espirito triste que murmura?Neste silencio lúgubre das Cousas...?Eu é que sou o Espectro, a Sombra escura?De falecidas formas mentirosas.
E tu, Sombra infantil do meu Am?r,?és o Sêr vivo, o Sêr Espiritual,?A Presen?a radiosa...
Eu sou a D?r,?Sou a tragica Ausencia glacial...
Pois tu vives, em mim, a vida nova,?E eu já n?o vivo em ti...
Mas quem morreu??F?ste tu que baixaste á fria cova??Oh, n?o! Fui eu! Fui eu!
Horrivel cataclismo e negra sorte!?Tu f?ste um mundo ideal que se desfez?E onde sonhei viver apoz a morte!?Vendo teus lindos olhos, quanta vez,?Dizia para mim: eis o logar?Da minha espiritual, futura imagem...?E viverei á luz daquele olhar,?Divino sol de mistica Paisagem.
Era minha ambi??o primordial?Legar-lhe a minha imagem de saudade;?Mas um vento cruel de temporal,?Vento de eternidade,?Arrebatou meu sonho! E fugitiva?Deste mundo se fez minha alegria;?Mais morta do que viva,?Partiu comtigo, Am?r, á luz do dia?Que doirou de tristêsa o teu caix?o...?Partiu comtigo, ao pé de ti murmura;?é maguada voz na solid?o,?D?ce alvor de luar na noite escura...?E beija o teu sepulcro pequenino;?Sobre ele v?a e erra,?Porque o teu Sêr amado é já divino?E o teu sepulcro, abrindo-se na terra,?Penetrou-a de luz e santidade...?E para mim a terra é um grande templo?E, dentro dele, a Imagem da Saudade...?E reso de joelhos, e contemplo?Meu triste cora??o, saudoso altar?Alumiado de sombra, escura luz...?Nele deitado estás como a sonhar,?Meu pequenino e mistico Jesus...?Lagrimas dos meus olhos s?o as fl?res?Que a teus pés eu deponho...?Enfeitam tua Imagem minhas d?res,?E alumia-te, ás noites, o meu sonho.
Todo me dou em sacrificio á tua?Imagem que eu adoro.?Sou branco incenso á triste luz da lua:?Eu sou, em nevoa, as lagrimas que choro...
MINHA ALEGRIA
Minha alegria foi no teu caix?o;?Deitou-se ao pé de ti, na sepultura,?A fim de acalentar teu cora??o?E tornar-te mais branda a terra dura.
Por isso, é para mim consola??o?Esta sombria d?r que me tortura!?E ponho-me a cantar na solid?o,?Meu cantico esculpido em noite escura!
Consola-me saber minha alegria?Longe de mim, perto de ti, na fria?Cova a que tu baixaste apoz a morte.
F?ste tu que m'a deste, meu am?r;?Agora, dou-t'a eu: é a minha fl?r;?Eu quero que ela soffra a tua sorte.
TRISTêSA
O sol do outomno, as folhas a cair,?A minha voz baixinho solu?ando,?Os meus olhos, em lagrimas, beijando?A terra, e o meu espirito a sorrir...
Eis como a minha vida vae passando?Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir?Silencios da minh'alma e o resurgir?De mortos que me f?ram sepultando...
E fico mudo, extatico, parado?E quasi sem sentidos, mergulhando?Na minha viva e funda intimidade...
Só a longinqua estrela em mim actua...?Sou rocha harmoniosa á luz da lua,?Petreficada esphinge de saudade...
A MINHA D?R
Tua morte feriu-me no mais fundo,?Remoto da minh'alma que eu julgava?Já fóra desta vida e deste mundo!
E vejo agora quanto me enganava,?Imaginando possuir em mim?Alma que f?sse livre e n?o escrava!
Meu espirito é treva e d?r sem fim.?Todo eu sou d?r e morte. Sou franquêsa.?Sou o enviado da Sombra. Ao mundo vim
Prégar a noite, a lagrima, a incertêsa,?A luz que, para sempre, anoiteceu...?Esta envolvente, essencial tristêsa,
Tristêsa original donde nasceu?O sol caindo em lagrimas de luz,?Ch?ro de oiro inundando terra e céu!
Sou o enviado da Sombra. Em negra cruz,?Meu ilusorio sêr crucificado?Lembra um morto phantasma de Jesus...
E aos pés da minha cruz, no ch?o maguado,?A tua Ausencia é a Virgem Dolorosa,?Com tenebroso olhar no meu pregado.
Ah! quanto a minha vida religiosa,?Depois que te perdeste no sol-p?sto,?Se fez incerta, fragil e enganosa!
Em meu sêr desenhou-se um novo r?sto.?Sou outro agora; e vejo com pavor?Minha máscara interna de desg?sto.
Vejo sombras á luz da minha d?r...?Sombras talvez de eternas Creaturas?Que vivem na alegria do Senhor...
E quem sabe se os Mortos, nas Alturas,?Vivem na paz de Deus, em sitios êrmos,?Entre fl?res, sorrisos e venturas?...
E quem sabe se as d?res que soffremos?E nosso corpo e alma, n?o s?o mais?Que as suas vagas sombras irreaes?...
Ah, nós s?mos ainda o que perdemos...
A M?E E O FILHO
Teu sêr tragicamente enternecido,?Em desespero de alma transformado,?Vae através do espa?o escurecido?E pousa no seu tumulo sagrado.
E ele acorda, sentindo-o; e, comovido,?Chora ao vêr teu espirito adorado,?Assim t?o só na noite e arrefecido?E todo de êrmas lagrimas molhado!
E eis que ele diz: "ó M?e, n?o chores mais!?Em vez dos teus suspiros, dos teus ais,?Quero que venha a mim tua alegria!"
E só nas horas em que a M?e descan?a,?é que ele inclina a fronte de crean?a?E dorme ao pé de ti, Virgem Maria!
AUSENCIA
Lúgubre solid?o! ó noite triste!?Como sinto que falta a tua Imagem?A tudo quanto para mim existe!
Tua bemdita e efémera passagem?No mundo, deu ao mundo em que viveste,?á nossa b?a e maternal Paisagem,
Um espirito novo mais celeste;?Nova Forma a abra?ou e nova C?r?Beijou, sorrindo, o seu perfil agreste!
E ei-la agora t?o triste e sem
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