Contos para a Infância | Page 7

Guerra Junqueiro
alde?o enumerou-lhos a seguir, e pela ordem porque cada um se tinha apresentado.
?Já vês, disse o confessor, que n?o era muito difícil aprender o Padre Nosso, porque já o sabes perfeitamente.?

*O talism?*
Dois habitantes da mesma cidade exerciam nela a mesma indústria, mas com resultados bem diversos; um enriquecia-se e o outro arruinava-se, o que n?o era de espantar, porque o primeiro zelava os seus negócios com uma actividade infatigável, enquanto que o segundo, entregue inteiramente aos seus prazeres, encarregava os estranhos da direc??o da sua casa.
?Explica-me, disse um dia este último ao seu colega, qual é a raz?o porque a sorte nos trata de um modo t?o diferente? Vendemos as mesmas mercadorias, a minha loja está t?o bem situada como a tua, e apesar disso, enquanto tu ganhas, eu n?o fa?o sen?o perder. E n?o é porque eu seja estroina; n?o bebo, nem jogo. Já tenho pensado algumas vezes se n?o terás tu por acaso algum precioso talism?.?
?Efectivamente, respondeu o outro, herdei de meu pai um talism? de uma virtude incomparável. Trago-o ao pesco?o, e ando assim com ele todo o dia por toda a casa, do celeiro para a adega, e da adega para o celeiro. E o caso é que tudo me corre perfeitamente.?
?Olé meu querido colega, empresta-me pelo amor de Deus essa relíquia preciosa de que tanto necessito; podes ter a certeza de que ta restituo.?
?Pois vem buscá-la amanh? de manh?.?
Quando ao outro dia foi procurar o seu generoso concorrente, apresentou-lhe este uma avel?, através da qual tinha passado um fio de seda.
O nosso homem p?-la imediatamente ao pesco?o, e come?ou a correr toda a casa com o talism?. Observou ent?o a completa desordem que por toda a parte ali havia. Na adega faltava-lhe vinho, cerveja e azeite; na cozinha o p?o, a carne e os legumes; no celeiro, o milho, o trigo, o feij?o; na estribaria, o feno e a aveia, roubados das manjedouras dos cavalos; viu, finalmente, como os seus livros e registros estavam mal escriturados; viu tudo isto, e que era necessário dar-lhe remédio, compreendendo que o dono da casa nunca pode ser substituído por terceira pessoa na direc??o dos seus negócios.
Passados alguns dias foi entregar ao dono o precioso talism?, agradecendo-lhe duplamente, em primeiro lugar, o seu bom conselho, e em segundo lugar, a maneira delicada porque lho tinha dado.

*A alma*
?Mam?, nem todas as crian?as que morrem v?o para o Paraíso. O outro dia vi levar para o cemitério um menino que tinha morrido; o seu papá e as suas duas irm?zinhas acompanhavam o caix?o, e choravam tanto que me fazia pena. Iam a chorar porque aquele menino tinha sido mau, n?o é verdade??
?N?o; naturalmente foi sempre bom, e a sua alma, enquanto choravam seus pais e suas irm?s, já estava vivendo feliz no Paraíso.?
?A alma? mam?; n?o sei o que é; n?o compreendo bem.?
?Maria, acabas de me dizer que tiveste pena de ver chorar as duas pequerruchas.?
?Tive sim, mam?, tive muita pena.?
?Ora bem, o que é que no teu corpo estava desconsolado e triste? eram os bra?os??
?N?o, mam?.?
?Eram as orelhas??
?Oh! n?o mam?, era cá dentro.?
?Esse lá dentro, Maria, é a tua alma que se alegra ou se entristece, que te repreende quando fazes o mal, e que está satisfeita quando praticas o bem.

*Alberto*
Alberto tinha seis anos. Era filho de um jardineiro. Via seu pai e seus irm?os, que eram activos e laboriosos, plantar árvores e fazer sementeiras, que nasciam, cresciam e davam fruto. Tinha visto um único feij?o produzir cem feij?es e muitas vezes mais, e de uma talhada de batata nascerem quarenta batatas magníficas; sabia que a terra pagava com juros exorbitantes o que lhe emprestavam. Um dia achou uma libra no quarto do pai, e foi enterrá-la imediatamente no seu jardinzinho. ?Há-de nascer uma árvore, dizia ele consigo, que dará libras como uma cerejeira dá cerejas, e irei entregá-las ao papá, que ficará muito contente.? Todas as manh?s ia ver se a libra tinha nascido, mas n?o rebentava nada. Entretanto o pai procurava a libra por toda a parte. Por fim perguntou ao Albertinho se a tinha visto.
?Vi papá; achei-a e fui semeá-la.?
?Como, semeá-la? doido! julgas talvez que vai nascer como uma couve??
?Mas, papá, ouvi dizer que o oiro se encontrava na terra.?
?é verdade, mas n?o nasce como uma semente; o oiro n?o tem vida.?
Desenterrou-se a libra, e Alberto foi castigado por dispor do que lhe n?o pertencia.
Há contudo, meus filhos, uma maneira de semear o oiro, fazendo-lhe produzir os mais belos frutos que existem no mundo. Quereis saber como é? é dando-o aos pobres. Faz-se no Paraíso a colheita dessa sementeira.

*A can??o da cerejeira*
Disse Deus na Primavera: ?Ponham a mesa às lagartas!? E a cerejeira cobriu-se imediatamente de folhas, milh?es de folhas, fresquinhas e verdejantes.
A lagarta, que estava dormindo dentro de casa, acordou, espregui?ou-se, abriu a boca, esfregou os
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