chorar...
CREPUSCULAR
Ha no ambiente um murmurio de queixume,?De desejos de amor, d'ais comprimidos...?Uma ternura esparsa de balidos,?Sente-se esmorecer como um perfume.
As madre-silvas murcham nos silvados?E o ar?ma que exhalam pelo espa?o,?Tem del��quios de g?so e de cansa?o?Nervosos, femininos, del��cados.
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,?Inaprehensiveis, minimas, ser��nas...?--Tenho entre as m?os as tuas m?os pequenas.?O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas m?os t?o brancas d'anemia...?Os teus olhos t?o meigos de tristeza...?--�� este enlanguescer da natureza,?Este vago sofrer do fim do dia.
Se andava no jardim,?Que cheiro de jasm��m!?T?o branca do luar!
. . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . .?. . . . . . . . . . . . .
Eis tenho-a junto a mim.?Vencida, �� minha, emfim,?Ap��s tanto a sonhar...
Porque entriste?o assim?...?N?o era ella, mas sim?(O que eu quiz abra?ar),
A hora do jardim...?O aroma de jasmim...?A onda do luar...
Depois das bodas de oiro,?Da hora promettida,?N?o se�� que mau agoiro?Me ennoiteceu a vida...
Temo de regressar...?E mata-me a saudade...?--Mas de me recordar?N?o sei que d?r me invade.
Nem quero prosseguir,?Trilhar novos caminhos,?Meus pobres p��s, dorir,?J�� roxos dos espinhos.
Nem ficar... e morrer...?Perder-te, imagem vaga...?Cessar... N?o mais te v��r...?Como uma luz se apaga...
O meu cora??o desce,?Um bal?o apagado...?--Melhor f?ra que ardesse,?Nas trevas, incendiado.
Na bruma fastidienta,?Como um caix?o �� cova...?--Porque antes n?o rebenta?De d?r violenta e nova?!
Que ap��go ainda o sustem??Atomo miserando...?--Se o esmagasse o trem?D'um comboio arquejando!...
O inane, vil despojo?Da alma egoista e fraca!?Trouxesse-o o mar de rojo?Levasse-o na ressaca.
Chorae arcadas?Do v��?loncello!?Convulsionadas,?Pontes aladas?De pesadelo...
De que esvoa?am,?Brancos, os arcos...?Por baixo passam,?Se despeda?am,?No rio, os barcos.
Fundas, solu?am?Caudaes de ch?ro...?Que ruinas, (ou?am)!?Se se debru?am,?Que sorvedouro!...
Tr��mulos astros...?Soid?es lacustres...?--Lemes e mastros...?E os alabastros?Dos balaustres!
Urnas quebradas!?Blocos de gelo...?--Chorae arcadas,?Despeda?adas,?Do vi?loncello.
AO LONGE OS BARCOS DE FLORES
S��, incessante, um som de flauta chora,?Viuva, gracil, na escurid?o tranquilla,?--Perdida voz que de entre as ma��s se exila,?--Fest?es de som dissimulando a hora.
Na orgia, ao longe, que em clar?es scintilla?E os labios, branca, do carmim desflora...?S��, incessante, um som de flauta chora,?Viuva, gracil, na escurid?o tranquilla.
E a orchestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,?Cauta, detem. S�� modulada trila?A flauta flebil... Quem ha-de remil-a??Quem sabe a d?r que sem raz?o deplora?
S��, incessante, um som de flauta chora...
EM UM RETRATO
De sob o c��moro quadrangular?Da terra fresca que me ha-de inhumar,
E depois de j�� muito ter chovido,?Quando a herva alastrar com o olvido,
Ainda, amigo, o mesmo meu olhar?Ha-de ir humilde, atravessando o mar,
Envolver-te de preito enternecido,?Como o de um pobre c?o agradecido.
Voz debil que passas,?Que humilima gemes?N?o sei que desgra?as...
Dir-se-hia que pedes.?Dir-se-hia que tremes,?Unida ��s paredes,
Se vens, ��s escuras,?Confiar-me ao ouvido?N?o sei que amarguras...
Suspiras ou fallas??Porque �� o gemido,?O sopro que exhalas?
Dir-se-hia que rezas.?Murmuras baixinho?N?o sei que tristezas...
--Ser teu companheiro??N?o sei o caminho.?Eu sou estrangeiro.
--Passados amores?--?Animas-te, dizes?N?o sei que terrores...
Fraquinha, deliras.?--Projectos felizes?--?Suspiras. Expiras.
Na cadeia os bandidos presos!?O seu ar de contemplativos!?Que �� das feras de olhos acesos?!?Pobres dos seus olhos captivos.
Passeiam mudos entre as grades,?Parecem peixes n'um aquario.?--Campo florido das Saudades?Porque rebentas tumultuario?
Serenos... Serenos... Serenos...?Trouxe-os algemados a escolta.?--Extranha ta?a de venenos?Meu cora??o sempre em revolta.
Cora??o, quietinho... quietinho...?Porque te insurges e blasfemas??Pschiu... N?o batas... De vagarinho...?Olha os soldados, as algemas!
FINAL
�� cores virtuaes que jazeis subterraneas,?--Fulgura??es azues, vermelhos de hemoptyse,?Represados clar?es, chromaticas vesanias--,?No limbo onde esperaes a luz que vos baptise,
As palpebras cerrae, anciosas n?o veleis.
Ab?rtos que pendeis as frontes c?r de cidra,?T?o graves de scismar, nos bocaes dos museus,?E escutando o correr da agua na clepsydra,?Vagamente sorris, resignados e atheus,
Cessae de cogitar, o abysmo n?o sondeis.
Gemebundo arrulhar dos sonhos n?o sonhados,?Que toda a noite erraes, doces almas penando,?E as azas laceraes na aresta dos telhados,?E no vento expiraes em um queixume brando,
Adormecei. N?o suspireis. N?o respireis.
End of the Project Gutenberg EBook of Clepsydra, by Camilo Pessanha
? END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CLEPSYDRA ***
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