contra aquelles que criara, pelo primeiro erro, t?o grande crueza.
El-rei, ouvindo todos, respondia sempre que dos judeus viriam depois aos christ?os.
Em fim d'estas e outras raz?es, mandou que os degolassem.
E foi assim feito.
*CAPITULO VII*
_Como el-rei quizera metter um bispo a tormento porque dormia com uma mulher casada_.
N?o s��mente usava el-rei de justi?a contra aquelles que raz?o tinha, assim como leigos e semelhantes pessoas, mas assim ardia o cora??o d'elle de fazer justi?a dos maus, que n?o queriam guardar sua jurisdic??o, aos clerigos tambem, de ordens pequenas, como de maiores. E se lhe pediam que o mandasse entregar a seu vigario, dizia que o puzessem na forca e que assim o entregassem a Jesus Christo, que era seu Vigario, que fizesse d'elle direito no outro mundo. E elle por seu corpo os queria punir e atormentar, assim como quizera fazer a um bispo do Porto, na maneira que vos contaremos.
Certo foi, e n?o o ponhaes em duvida, que el-rei, partindo de entre Douro e Minho, por vir �� cidade do Porto, foi informado que o bispo d'esse lugar, que ent?o tinha gram fama de fazenda e honra, dormia com uma mulher de um cidad?o, dos bons que havia na dita cidade, e que elle n?o era ousado de tornar a ello, com espanto de amea?as de morte que lhe o bispo mandava p?r.
El-rei, quando isto ouviu, por saber de que guisa era, n?o via o dia que estivesse com elle, para lh'o haver de perguntar.
E logo, sem muita tardan?a, depois que chegou ao logar, e houve comido, mandou dizer ao bispo que fosse ao pa?o, que o havia mister por cousas de seu servi?o. Falou com seus porteiros, que depois que o bispo entrasse na camara, lan?assem todos f��ra do pa?o, tambem os do bispo como quaesquer outros, e que ainda que alguns do conselho viessem, que n?o deixassem entrar nenhum dentro, mas que lhe dissessem que se fossem para as pousadas, c�� elle tinha de fazer uma cousa em que n?o queria que fossem presentes.
O bispo, como veiu, entrou na camara onde el-rei estava, e os porteiros fizeram logo ir todos os seus e os outros, em guisa que no pa?o n?o ficou nenhum, e foi livre de toda a gente.
El-rei, como foi ��parte com o bispo, desvestiu-se logo e ficou em uma saia de escarlata, e por sua m?o tirou ao bispo todas as suas vestiduras, e come?ou de o requerer que lhe confessasse a verdade d'aquelle maleficio em que assim era culpado: e em lhe dizendo isto, tinha na m?o um grande a?oute para o brandir com elle.
Os criados do bispo, quando no come?o viram que os deitavam f��ra, e isso mesmo os outros todos, e que nenhum n?o ousava l�� de ir, pelo que sabiam que o bispo fazia, d��s ahi juntando a isto a condi??o de el-rei e a maneira que em taes feitos tinha, logo suspeitaram que el-rei lhe queria jogar de algum mau jogo, e foram-se �� pressa ao conde velho, e ao mestre de Christo Dom Nuno Freire, e a outros privados de seu conselho, que accorressem asinha ao bispo.
E logo tostemente vieram a el-rei, e n?o ousaram de entrar na camara, por a defeza que el-rei tinha posta, se n?o f?ra Gon?alo Vasques de Goes, seu escriv?o da puridade, que disse que queria entrar por lhe mostrar cartas que sobrevieram de el-rei de Castella a gram pressa. E por tal azo e fingimento houveram entrada dentro na camara, e acharam el-rei com o bispo em ras?es, da guisa que havemos dito, e n?o lh'o podiam j�� tirar das m?os. E come?aram de dizer que fosse sua merc�� de n?o p?r m?o n'elle, c�� por tal feito, n?o lhe guardando sua jurisdic??o, haveria o papa sanha d'elle; demais, que o seu povo lhe chamava algoz, que por seu corpo justi?ava os homens, o que n?o convinha a elle de fazer, por muito malfeitores que fossem.
Com estas e outras ras?es, arrefeceu el-rei de sua mui brava sanha, e o bispo se partiu de ante elle, com semblante triste e turvado cora??o.
*CAPITULO VIII*
_Como el-rei mandou capar um seu escudeiro, porque dormiu com uma mulher casada_.
Era ainda el-rei Dom Pedro muito cioso, assim de mulheres de sua casa, como de seus officiaes e das outras todas do povo, e fazia grandes justi?as em quaesquer que dormiam com mulheres casadas ou virgens, e isso mesmo com freiras.
Onde aqueeceu que em sua casa havia um corregedor da c?rte a que chamavam Louren?o Gon?alves, homem mui entendido e bem razoado cumpridor de todas as cousas que lhe el-rei mandava fazer, e n?o corrompido por nenhuns falsos offerecimentos que trasmudam os juizos dos homens. E porque o el-rei achava leal e bem verdadeiro, fiava d'elle muito, e queria-lhe grande bem.
E era este corregedor muito honrado de sua casa e estado,
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