Chronica de el-rei D. Affonso Henriques | Page 2

Duarte Galvão
Santa Cruz, e
durou a demanda por muito tempo.» Por ordem del-Rei D. Manoel
começou, mas não proseguio, as Chronicas dos Reis, seus

predecessores, para cujo trabalho, e para cousas outras de _mór
importancia foi homem por sua doutrina assás desperto e mui
sufficiente_, conforme o reputa Rui de Pina.
Vir non minus aetate, quam prudentia, ac rerum usu gravissimus he
elle qualificado por Damião de Goes. Raro em sciencia e valor o
denomina João Pinto Ribeiro; homem douto, Duarte Nunes do Leão.
Publicou-se modernamente:
_Chronica do muito alto, e muito esclarecido Principe D. Affonso
Henriques, primeiro Rey de Portugal, composta por Duarte Galvão,
Fidalgo da Casa Real, e Chronista Mór do Reino. Fielmente copiada do
seu original, que se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo.
Offerecida á Magestade sempre Augusta del-Rey D. João V. nosso
Senhor por Miguel Lopes Ferreyra. Lisboa Occidental, na Officina
Ferreyriana M. DCC. XXVI._==fol.
«Nesta Chronica, que Duarte Galvão diz, que fez de novo (são palavras
de Damião de Goes) faltão muitas cousas, que não chegárão á sua
noticia.» O Abbade Barboza traz o lugar citado, e com elle prova que
Goes dissera, que Duarte Galvão a fizera de novo. Mas esta asserção,
como se vê claramente, só pertence ao mesmo Galvão, a quem Goes a
attribue. O qual porém nisto mesmo se enganou, visto que o referido
Galvão no Prologo da sobredita Chronica, dirigido a el-Rei D. Manoel,
assim lhe falla: «Pelo qual, Serenissimo Senhor, como quer que além
da materia, me haja de ser trabalho e difficuldade ajuntar e supprir
cousa de tantos tempos, desordenada e falecida, e para haver de
_emendar escritos alhêos_, vejo que armo sobre mim juizos de
muitos:» O que se ajusta melhor com o parecer de Barros, o qual
escreve, que Duarte Galvão sómente lhe apurára a lingoagem antiga
em que estava escrita.»
«E quem quer que foi (prosegue o mesmo Barros) o compoedor della
dará conta a Deos de macular a fama de tão illustres duas pessoas,
como forão a Rainha Dona Tareja, e el-Rei D. Affonso Henriques, seu
filho.» Acudio a isto com a merecida emenda o P. Fr. Antonio Brandão
na terceira Parte da Monarchia Lusitana. André de Resende só diz que
Duarte Galvão a escrevéra: porém Pedro de Mariz a declara

expressamente recopilada de outra antiquissima por mandado del Rei D.
Manoel. No mesmo engano de Goes, cahio depois Gaspar Estaço,
dizendo assim:
«Como escreve Duarte Galvão na Chronica del Rei D. Affonso
Henriques, que elle compôz por mandado del Rei D. Manoel, a quem a
dedicou: da qual elle não foi autor, senão apurador do antigo lingoage,
em que andava, como diz João de Barros. Espantame dizer Duarte
Galvão (no principio desta Chronica) que elle a fez de novo, porque o
Chronista Fernão Lopes, Escrivão da Puridade, que foi do Infante Santo
D. Fernando, e Guarda mór da Torre do Tombo fez todas as Chronicas
dos Reis té seu tempo como prova Damião de Goes.» Rui de Pina,
André de Resende, Duarte Nunes do Leão, e muitos outros de grande
autoridade o dão por Autor da sobredita Chronica==.
Nos manuscriptos da Bibliotheca Nacional de Lisboa encontro oito
copias desta Chronica. A marcada B--12--8 tem no final a data 1568.
Bello exemplar é a B--4--2 (n.^o 376), escripta no seculo XVI. Da
mesma epoca a B--4--4 (n.^o 378). Ha tres copias do seculo XVII; uma
destas foi doada pelo bispo de Beja, D. fr. Manoel do Cenaculo. Do
seculo XVIII possue a Bibliotheca duas copias. A copia n.^o 841
offerece algumas notas e explicações do texto.
Acho ainda um fragmento sob n.^o 8.169. Em todas estas copias acho
os taes quatro capitulos riscados para a primeira edição. Parecem estes
codices ter pertencido a particulares, não a institutos religiosos: não
lhes vejo sellos ou ex-libris de conventos. A Chronica foi impressa em
Lisboa em 1726, eliminados os celebres capitulos escandalosos.
Antes d'isto a publicação da Monarquia Lusitana, pòde suppôr-se,
tornára inutil a impressão ou publicação da chronica de Affonso
Henriques por Duarte Galvão. Mas, talvez por causa dos taes capitulos
continuaram a fazer-se copias; ainda, em pleno seculo XVIII, depois da
impressão, se fizeram copias. Esta a razão de por todos os archivos se
encontrarem copias manuscritas da chronica de Galvão.
Os quatro capitulos foram publicados na Revista litteraria do Porto
(1838, 2.^o vol. pag. 322). Ahi se fazem as observações seguintes.

Quatro capitulos ineditos da Chronica de D. Affonso Henriques por
Duarte Galvão
A Chronica de D. Affonso Henriques por Duarte Galvão, foi estampada
pela 1.^a vez, em Lisboa no anno de 1726.
«O original desta Chronica» diz Barboza, em sua Bibliotheca Lusitana,
«se conserva no Archivo Real da Torre do Tombo, da qual extrahio
uma copia fiel Miguel Lopes Ferreira, e a publicou em nossos tempos».
A simples inspecção da mesma Chronica impressa denuncia
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