herva, uma ephemera transição entre o
alfobre da meninice e a palha da edade madura); quando te chegar o teu
dia, lembra-te, asninho imprudente, d'este conselho amigo de um burro
velho, que não aprende linguas, mas que tem a experiencia que vale
tanto como o ouro: Nunca sacudas mosca desde que creares masela!
Teme-te dos papos vasios das revoadas novas. Papos cheios não só não
mordem mas até empacham! Comprehendeste, burrinho, a philosophia
da minha inercia?
Revertamos agora, como vinhamos dizendo, á situação politica.
Em toda a sociedade em movimento ha dois unicos partidos: o partido
conservador e o partido revolucionario.
A funcção do partido revolucionario, qualquer que seja o seu
nome--republicano, socialista, federalista, fourrierista, proudhonista,
positivista, etc.--é transformar a ordem estabelecida, modificando as
condições da civilisação no sentido de um mais rapido progresso.
Para este fim o partido revolucionario agita constantemente por meio
de idéas novas as opiniões preconcebidas.
Como, porém, não está ainda definido o programma geral e harmonico
da revolução, como a tendencia progressiva das multidões
indisciplinadas se basea no sentimentalismo esteril ou no phantastico
ideal methaphysico dos phraseadores eloquentes, succede que todo o
esforço revolucionario representa para a sociedade um perigo de
desordem, de incoherencia e de anarchia.
A funcção do partido conservador é a manutenção da ordem contra
todas as invasões que directa ou indirectamente ameacem a integridade
da organisação existente. Em todas as velhas sociedades os governos
são por essa rasão, os inimigos natos do progresso. A evolução
progressiva da humanidade realisa-se, a despeito d'elles, pela
elaboração irresistivel das idéas fora da esphera official, sob a acção
das descobertas da sciencia ou das suggestões da arte. O mais que
fazem os governos é submetterem-se ás transformações sociaes que a
solução de cada novo problema resolvido pela sciencia impõe á
existencia dos povos. Os governos, portanto, sempre que uma forte
effervescencia intellectual não agita a sociedade e os não abala
constantemente na eminencia do seu posto forçando-os a concessões
successivas, tendem ao retrocesso.
A civilisação não é na orbita politica senão o justo equilibrio das forças
resultantes d'essas duas tendencias: a tendencia retrograda na ordem, a
tendencia anarchica na revolução.
Em Portugal o que succede?
A vida intellectual é extremamente debil. A sciencia não tem cultores
desinteressados e ardentes, a acção da arte sobre a aspiração dos
espiritos é nulla.
O resultado é que os partidos de opposição, não encontrando nos
phenomenos da vida nacional a profunda expressão implacavel de
novas necessidades a que os governos tenham de amoldar-se, acham-se
naturalmente desarmados das grandes rasões que reptam os governos a
progredir ou a abdicar.
Em taes condições o partido revolucionario dentro da milicia politica,
partido fabricado pelos proprios governos com a corrupção do
suffragio,--sendo uma pura convenção, uma fixão constitucional, uma
expressão rhetorica, sem raizes na consciencia e na vontade
popular,--acabou por desapparecer inteiramente do nosso systema
representativo. Ha muitos annos que a revolução não tem quem a
represente no parlamento portuguez.
Ha, todavia, uma maioria parlamentar e uma opposição composta de
varios grupos dissidentes. Estes grupos são fragmentos dispersos do
unico partido existente--o partido conservador--fragmentos cuja
gravitação constitue o organismo do poder legislativo.
Estes partidos, todos conservadores, não tendo principios proprios nem
idéas fundamentaes que os distingam uns dos outros, sendo
absolutamente indifferente para a ordem e para o progresso que
governe um d'elles ou que governe qualquer dos outros,
conchavaram-se todos e resolveram de commum accordo revesarem-se
no podler e governarem alternadamente segundo o lado para que as
despesas da rhetorica nos debates ou a força da corrupção na urna
fizesse pesar a balança da regia escolha. Tal é o espectaculo recreativo
que ha vinte annos nos esta dando a representação nacional.
Imaginem meia duzia de almocreves sequiosos que acham na estrada
um pipo de vinho. Como nenhum d'elles tem mais direito que os outros
a beber do pipo, combina-se que cada um d'elles ponha a bocca ao
espicho e beba em quanto os pontapés dos outros o não contundirem
até o ponto de o obrigar a largar as mãos da vasilha para as apertar na
parte ferida pelos pontapés applicados pela companhia que espera. É
exactamente o que ha muito tempo tem sido feito pelos partidos
portuguezes com relação ao usofructo do poder que elles acharam na
estrada, perdido.
Chegou finalmente a vez de pôr o pipo á bocca um partido
excepcionalmente valoroso de sede e inconfundivel de fibra. Este
partido não desemboca o pipo por mais que lhe façam. Protestações
escandalisadas, de almocreves, retroam.
--Este partido abusa!
--Isto não vale!
--Isto não é do jogo!
--Elle esvasia o pipo!
--Larga o pipo, pipa!
--Larga o pipo, pimpão!
--Larga o pipo, ladrão!
E incitam-se uns aos outros até á ferocidade:
--Chega-lhe rijo!
--Mais! que lhe dôa bem!
--Rebenta-me esse ôdre!
--Racha-me esse tunel!
--Ah! cão!
O partido, porém, continua sempre a beber, e é insensivel
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