Caldea, da Babilonia e da Syria. Povos na infancia, desprovidos das li??es da experiencia, desarmados dos instrumentos da analyse moderna, souberam fundar a sua vida historica na previs?o industrial e na previs?o economica das cheias dos seus rios.
Nós, portuguezes, em pleno seculo XIX, na posse dos mais importantes segredos da mechanica, da astronomia, da physica, da chimica, nós, filhos de Kepler, de Galileu, de Newton e de Francklin, nós, contemporaneos de Mayer, de Helmboltz, de Virchow, de Haeckel, de Humboldt, e de Wourtz, de Ampere, de Leverrier, nós, n?o sabemos tirar das inunda??es successivas de um rio que vem de annos a annos, periodicamente, contra nossa vontade, fertilisar os nossos campos, nenhuma das li??es que a experiencia devia suggerir-nos para regularmos e utilisarmos em nosso proveito a ac??o violenta d'esse phenomeno!
Ha perto de trezentos annos que um velho naturalista, um modesto oleiro, um simples, um santo, Bernardo Palissy, ensinou a construir as fontes artificiaes, fazendo passar as aguas da chuva atravez de um pequeno trato de terreno arborisado sobre um declive de cimento argiloso, terminando n'um muro de supporte que se corta no ponto em que se colloca a fonte e onde se deseja que a chuva, armazenada no inverno entre as raizes do pomar plantado na encosta de subsolo sedimentado, venha a correr no ver?o em bica de agua mineralisada e limpida. Ha trezentos annos que isto se ensinou. Em Portugal, onde a chuva torrencial é um facto de quasi todos os invernos, onde a falta de agua potavel é um facto de quasi todos os ver?es, ainda ninguem aprendeu a construir a fonte de Palissy!
Em Lisboa cairam alguns muros e desabaram algumas casas. Se um ligeiro abalo de terra se tivesse seguido ás grandes chuvas é natural que muitos outros predios aluissem, porque a grave quest?o das edifica??es em Lisboa está absolutamente despresada e abandonada á rotina do velho systema adoptado pelo marquez de Pombal. Ora esse systema, aliás excellente no tempo da reedifica??o subsequente ao terremoto, é hoje imperfeito e perigoso. A canalisa??o da agua e as chaminés dos fog?es de sala vieram modernamente alterar os dados do problema resolvido pela sabia administra??o pombalina. Os andaimes de madeira geralmente adoptados para sustentar os soalhos e os tectos ou apodrecem rapidamente ao contacto dos canos da agua que envolvem os predios ou se carbonisam por effeito do calor que lhes communicam os tubos das chaminés. A elasticidade que se tem em vista obter para evitar os desabamentos procedentes dos terremotos, substituindo os madeiramentos pela pedra, só poderia conseguir-se, sem perigo do apodrecimento ou da carbonisa??o, empregando nas construc??es modernas o ferro em vez do pau. Esta modifica??o t?o facil, t?o economica, t?o urgentemente exigida nos novos systemas de edificar, o nosso desleixo nacional n?o nol-a tem deixado ensaiar. De modo que a mesma previs?o do perigo discorrida pelo unico homem que acordou em Portugal por occasi?o do grande tremor de terra com que á natureza benigna approuve tentar acordar-nos, essa mesma a nossa indolencia e a nossa incuria conseguiu converter dentro de poucos annos em mais uma causa de destrui??o e de aniquilamento!
Do regimen torrencial dos rios, da arborisa??o das montanhas, dos c?rtes transversaes das vertentes, da construc??o dos tubos de drenagem, das applica??es da draga, dos diques moveis organisados por meio das grandes caixas de ferro fundido, caixas que boiam na agua em quanto vasias e que um pequeno vapor munido do um cabo de reboque poderia conduzir aos centos sobre o Tejo para os pontos da margem que conviesse resguardar pelo pequeno espa?o de tempo necessario para evitar o perigo, quasi momentaneo, das inunda??es, do emprego finalmente de qualquer dos muitos meios conhecidos para dominar as cheias ou para utilizar as chuvas, ninguem se occupa--nem o governo que assiste ao espectaculo commodamente sentado nos seus fauteuils de orchestre e applica á marcha dos successos o seu binoculo de dilettanti correcto, imperturbavel, nem o parlamento, nem a imprensa, nem finalmente o paiz!
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A crise economica n?o nos parece ter sido objecto de cuidados mais serios do que aquelles que cercaram a quest?o hydraulica. Ou é certo ou n?o é que a inunda??o do Tejo e os temporaes que concorreram com ella destruíram as casas, devastaram os campos, reduziram povoa??es inteiras á miseria e á fome. Se isto é uma pura inven??o dos reporters sentimentaes, o diligente esfor?o humanitario empregado para arrancar da caridade o remedio supremo do grande mal é uma simples ostenta??o insensata e ridicula. Se s?o verdadeiras as informa??es que os jornaes vagamente nos transmittem das desgra?as provenientes da inunda??o do Tejo e do Guadiana, n'esse caso a quest?o n?o se resolve pela caridade particular mas sim pela assistencia publica.
Porque--reflictamos um momento--ou existe esse conjuncto harmonico de institui??es solidarias e responsaveis chamado o Estado, ou n?o existe.
Se n?o existe, em nome de
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