diversas direc??es até ás encostas, e inda além até aos cumes dos Andes, regando com placida corrente as dilatadas planicies da parte mais rica da Bolivia; finalmente, é completar praticamente o grande pensamento de paz e de uni?o internacional, ha pouco formulado e consagrado no referido tratado de navega??o e commercio e no decreto da abertura do Amazonas.
Desde muito o governo e o povo da Bolivia mir?o a navega??o a vapor dos tributarios do Alto Madeira e a communica??o facil d'ahi com o Atlantico como uma necessidade indeclinavel do progresso moral e material da republica e como a base da prosperidade futura de suas ferteis provincias do Oriente.
Já nos fins do seculo passado, em 1792, quando ainda dominava o regimen colonial, o sabio naturalista Tadeu Haenke, apresentou ao governo hespanhol o projecto de navegar os rios da Bolivia. Em 1833, o governo da republica instituia premios para os primeiros barcos a vapor que sulcassem seus rios; em 1843 e 1851, o congresso autorisava o poder executivo a despender até a somma de 200.000 pesos nos servi?os concernentes á mesma navega??o e em 1853, declarando-a livre ao commercio e aos navios de todas as na??es, renovava a offerta de premios aos que primeiro a emprehendessem, accrescendo a isto largas concess?es de terras.
A opini?o publica, manifestada quér na imprensa periodica e nos escriptos dos homens mais illustrados da Bolivia, quér por meio de obras praticas, tem sempre acompanhado neste assumpto ás vistas do governo. Assim é que n?o falt?o memorias e outras publica??es demonstrando as innumeras vantagens da communica??o do Madeira e muitas explora??es e até alguns trabalhos de construc??o h?o sido executados tanto nos rios que della fazem parte, como nas vias terrestres que a elles conduzem. Testemunh?o-n'o, entre muitos outros factos, as explora??es do naturalista francez Alcide d'Orbigny, patrocinadas pelo governo da Bolivia; as do parocho de Exaltacion, Dr. D. Ramon Eustaquio Duran e de D. José Agustin Palacios, governador de Mojos, que ambos navegár?o as cachoeiras do Madeira; a tentativa do cidad?o Tudela para abrir um caminho breve de Cochabamba ao Beni e recentemente, em 1864, os trabalhos da companhia Securé, a fim de realizar o mesmo objecto ligando aquella capital ás margens do affluente do Mamoré, cujo nome a sociedade tomou.
Estes poucos factos bast?o para provar que a idéa da utilisa??o effectiva da via do Madeira tem sido a aspira??o constante da Bolivia desde os primeiros annos de sua independencia e parece indubitavel que, se o vapor já n?o cursa hoje as aguas de seus rios, é porque seria quasi impossivel transportal-o subindo as 17 arriscadas cachoeiras, que os separ?o das aguas accessiveis do baixo Madeira.
De sua parte o Brasil, de alguns annos a esta parte, n?o tem poupado trabalho e capital a fim de chegar á realiza??o da mesma idéa. Desde 1851 que a companhia do Amazonas, generosamente subvencionada pelo governo imperial, percorre as aguas do maximo rio, cruzando em seu trajecto a embocadura do Madeira.
Em 1864, o engenheiro J. M. da Silva Coutinho chegou em um vapor brasileiro ao pé da cachoeira de Santo Antonio e dahi, embarcado em can?a, explorou na subida e na descida este e todos os outros empecilhos que se succedem até chegar ao de Guajaramirim no rio Mamoré.
No anno proximo findo, por decreto de 22 de Junho, o governo imperial subvencionou a uma companhia que se prop?e estabelecer uma linha regular de vapores no baixo Madeira até áquella primeira cachoeira[1], e quasi ao mesmo tempo mandava uma expedi??o scientifica, dirigida por dous distinctos engenheiros, no intuito de averiguar, por meio de medi??es hydrographicas exactas, a possibilidade de canalisar a sec??o das cachoeiras, ou, em caso negativo, de abrir-lhes um desvio por terra.
[1] Estamos scientes pelos ultimos jornaes do Brasil que o Sr. Brito e Amorim, concessionario desta navega??o, já conseguiu reunir na pra?a do Pará o capital necessario á mesma empreza.
Ha pois, tanto na Bolivia como no Brasil, o mais vivo empenho de communicar-se facil e effectivamente pela via do Madeira, e ainda que lentamente, a execu??o desta empreza vai caminhando a seu desejado fim.
Os successos do anno de 1867 tendem sobretudo a imprimir-lhe mais vitalidade. A politica e a diplomacia a estipulár?o por actos solemnes e a iniciativa individual, auxiliada pelo governo do Brasil, promette que em breve o vapor percorrerá todo o baixo Madeira e aportará junto ao degráo inferior da regi?o das cachoeiras.
Conseguido isto, restará sómente franqueal-as artificialmente por agua ou por terra, a fim de ir tambem lan?ar o poderoso motor nas aguas superiores do Madeira.
Esta é a obra, que cumpre atacar com vigor desde logo, n?o deixando escapar a opportunidade presente em que acontecimentos diversos parecem promovel-a e apressal-a.
A utilidade, que della resultará no sentido de crear e desenvolver a industria e o commercio nos paizes a que vai servir, é incontestavel. N?o ha que discutil-a
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