grande pandigo, quando mo?o, e é por esse motivo que eu nunca vos fallo d'elle.
Fallemos antes d'aquelle santo Chrisologo, que diz que um cura é um sol, e os seus freguezes s?o uns átomos. Mas eu n?o sei que diabo de átomos vocês s?o! n?o me pagam a congrua, querem que os case de gra?a e ainda em cima dizem: ?ora, estamos nas malvas para o _seu_ padre cura, elle n?o tem filhos para sustentar!? Vocês sabem la disso? N?o sabem que nós outros padres, temos mais trabalho em os esconder, do que vocês em os fazer?...
Mas voltando á vacca fria, pensemos na vossa convers?o, se ella é possivel.
Julgo que a melhor maneira de o conseguir é fallando-vos das maroteiras que se fazem na freguezia.
Por exemplo: o Jo?o da Canhota, regedor, sae á noite e se ha de vir ao serm?o, vai-se metter em casa da Felicia do Frade, e n?o sae de lá sen?o de madrugada. Diz que vae tomar chá, mas imaginem os ouvintes que qualidade de chá elle n?o tomará...
Aqui n?o ha sen?o desordem e immoralidade. Immoralidade nos velhos, immoralidade nos mo?os, immoralidade nos grandes, immoralidade nos pequenos.
Digo immoralidade nos velhos, porque esses velhos, ra?a damnada de Caim, depois de haverem passado toda a vida... em patuscadas e pandigas, ainda mesmo arrumados ao bord?o e de cabe?a calva, se v?o metter em logares suspeitos! Infames velhos de Suzana! quando é que lhes acabar?o as furias carnaes e burri?aes?
Immoralidade nos mo?os. Os rapazes e as raparigas andam por essas ruas aos beijos e abra?os, cantando cantigas indecentes e immoraes; ainda eu hontem ouvi a filha do Thomaz da Horta e o filho do Ignacio do Dente a cantarem o Pirolito que bate que bate! Ora n?o ha maior pouca vergonha, uns fedelhos que ainda cheiram a coeiros e já sabem o que isto quer dizer!
Immoralidade nos grandes. Esses mariol?es e essas mocetonas que v?o todos os dias para o matto, sob pretexto de que v?o buscar lenha, e por fim fazem por lá couzas do arco da velha... Lenha no forno queriam ellas, malditas!
E quando v?o aos figos! O que acontece?
As raparigas sobem para cima das arvores e os mariol?es ficam em baixo, a olhar para cima e a dizer: Olha Antonia vejo-te os calcanhares, e as pernas, e os joelhos, e o...
Ponham cobro a este escandal-o, amados irm?os, s?o couzas que se n?o devem ver sen?o em certas occasi?es. Eu n?o pego aos rapazes e ás raparigas que v?o ao matto e comam por lá o seu figuinho e mesmo que subam ás figueiras, mas para evitar indecencias, as raparigas fiquem debaixo e os rapazes que lhes v?o acima.
Immoralidade nos pequenos. Essa gaiatada miuda que anda todos os dias a correr pelo adro cá da freguezia, onde est?o as campas dos nossos antepassados, e que depois v?o fazer as suas necessidades mesmo á porta da sachristia. Se n?o teem respeito pelos mortos, tenham ao menos compaix?o pelos vivos, n?o póde uma pessoa entrar na egreja pela porta de traz sem ficar a bem dizer atolado até o nariz. Já disse ao sr. regedor da freguezia que pozesse m?o n'estas cousas, mas por ora continúa a mesma marmelada á porta da sachristia.
Tambem é digno de reprehens?o o comportamento d'essas mulheres casadas, que sem nenhuma considera??o pelos seus maridos, se levantam do leito conjugal de madrugada, sob pretexto de levarem o gado ao campo, e depois de andarem lá por fóra a laurear, em pernas, recolhem-se para casa frias de neve, e v?o-se outra vez metter na cama com os maridos e arripial-os sem piedade! Pobres homens! Se fosse comigo, que co?a que ellas n?o levavam...
Tambem ha certa mo?a cá na freguezia, que eu trago d'olho ha dias, cá por certa cousa. Eu devia já dizer quem é, mas emfim por hoje limitar-me-hei só a mettel-a na sachristia e arrumar-lhe um lembrete... domingo direi quem é, se n?o tomar juizo... por agora saibam unicamente que é a unica na freguezia que usa ligas encarnadas... (_Pausa, rumor na egreja._)
Domingo, de hoje a oito dias, me alargarei mais sobre os homens, co?arei as mulheres casadas, e caírei em cima das solteiras, se n?o tomarem juizo d'aqui até lá.
Sendo hoje dia de festa e estando a chuver far-se-ha a prociss?o só por baixo da egreja, pois eu n?o estou para apanhar alguma porrada d'agua. N?o precisa vir toda a gente a ella, basta que de cada familia venha um var?o.
A proposito de prociss?o, tenho a dizer-vos, amados ouvintes, que os santos cá da freguezia v?o estando muito chimfrins. Eu n?o dava tres vintens por elles. O S?o Miguel é que está assim mais direitinho, mas o diabo que está por baixo já n?o tem cornos; pois olhem, n?o ha na freguezia poucos homens ricos no caso de lh'os darem. O calvario tambem
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