A princeza na berlinda | Page 4

Urbano de Castro
isto quer dizer em portuguez:--Notre p��re qui ��tes aux cieux, que votre nom soit, santifi��...
Como diabo, perdoe-se-me a heresia, querer?o os meus bons amigos portuguezes que Nosso Senhor os entenda??
E n?o seria este por certo o menos notavel dos seus espantos.
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Antes de passarmos adiante contemos um disparate que n?o deixa de ter gra?a. A paginas, n?o sei quantas, escrevendo a princeza que n��s n?o fazemos uso de fog?es para aquecer as casas, diz pouco mais ou menos o seguinte:--De resto, se fizessem uso d'elles, n?o se haviam de v��r em pequenos embara?os para arranjar o combustivel, a n?o ser que deitassem a mobilia ao fogo. A lenha �� absolutamente desconhecida em Portugal, e custa cada kilo... tres mil r��is!?
--Oh! princeza, se vossa alteza quando esteve em Lisboa pagou a lenha por aquelle pre?o, devo dizer-lhe duas coisas:--a primeira, �� que o seu livro passa a ser um favo do Hymeto, a segunda... �� que foi roubada!
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O que �� verdade por��m �� que Lisboa deve um grande servi?o �� princesa. Nem mais nem menos do que a rusga feita ��s casas de jogo nos principios d'este mez.
Se duvidam, leiam.
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Ha muito que no governo civil havia uma tal ou qual suspeitasinha, uma vaga desconfian?a, de que a roleta, esse terrivel philloxera das algibeiras, tivera o inqualificavel arrojo, o descaro inaudito de assentar os seus arraiaes--aqui--na patria de Cam?es, nas bochechas do sr. Rosa Araujo, representante da dita patria. Mas tudo era vago, incerto, nebuloso... A policia posta em campo nada descobrira. Procurara-a,--oh! se a procurara!--como o nauta procura o norte, como a ave procura o ninho, como a f��ra o seu covil--mas, apesar de a procurar com todo este excesso de poesia, o resultado era sempre o mesmo... nada, nada, nada, tres vezes nada coisa nenhuma!
O habil Antunes, o eximio Castello Branco, o nunca ass��s cantado 37--e muitos outros egualmente habeis, egualmente eximios, egualmente nunca ass��s cantados, encarregados secretamente de a descobrirem, pozeram em pratica as maiores subtilesas policiaes. Um d'elles chegou a disfar?ar-se em G. L. P... Nem assim a encontrou!
Nada os fazia recuar, nada os intimidava, desconheciam... e creio que ainda desconhecem, o verbo trepidar! Passeios, botequins, theatros, tudo assaltaram em busca da criminosa... Era um phrenesi, um delirio, uma raiva... Mas a scelerada n?o apparecia!
--E comtudo ella existe! exclamava o governo civil com o tom solemne com que por muito tempo se julgou que o sabio Gallileu dissera o legendario:--E pur si muove!
Era para perder a cabe?a.
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Estavam as coisas n'estes termos quando chegou o livro da princeza. O governo civil compra-o, come?a a l��l-o e ao chegar a paginas 149, j�� n?o diz: ?E comtudo ella existe!? no tom de Gallileu, mas, qual outro Archimed��s, toilette aparte, solta do fundo do seio um jubiloso Eureka!
Ah! �� que effectivamente o caso n?o era para menos. A pagina 149, fallando das batotas, diz a princeza:
Ha uma na rua do Alecrim.
Uma, rua das Gavias.
Uma, pra?a de Cam?es.
Duas, rua da Emenda.
Uma, rua de S. Francisco.
Uma, travessa de Santa Justa.
Tres ou quatro �� Ribeira Velha.
--Obrigado meu Deus! exclamou ent?o o governo civil imitando d'esta vez a sr.^a Emilia das Neves, obrigado meu Deus!
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E aqui est�� como a policia conseguiu saber onde eram as batotas. Ah! princeza, princeza, vossa alteza merecia que pelo menos a fizessem... chefe d'esquadra.
E note-se mais, �� ella, �� ella quem ensina no seu livro como se faz uma rusga. Duvidam?
Leiam.
?--Em Paris a policia tem um servi?o especial para este genero de industria prohibida. Os agentes d'este servi?o espiam os batoteiros, estudam cuidadosamente o terreno, e uma bella noite cahem l�� dentro como um raio e prendem todos, levando o dinheiro que est�� em cima das mesas.?
A policia seguiu as instruc??es da princeza tanto �� risca, que at�� escolheu uma bella noite, une belle nuit, para fazer a sua rusga!
Diz ainda sua alteza:--A mobilia �� confiscada... e a policia confiscou a mobilia.
Decididamente, a princeza tem todo o direito... a um apito honorario!
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Vejamos agora como sua alteza falla de alguns dos nossos escriptores.
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--Camillo Castello Branco, que parece o condemnado aos trabalhos publicos da litteratura portugueza, escreve, escreve, escreve, escreve sempre: superiormente, �� quest?o controversa; enormemente, com certesa. A quantidade excede em muito a qualidade, diz-se, (diz ella); dotado de uma actividade laboriosa, infatigavel, comparavel �� de uma legi?o de formigas, construe romances contemporaneos sobre romances historicos, com uma preseveran?a e uma sequencia que intrigam a imagina??o. �� uma especie de Quevedo com certo sentimentalismo catholico.
Particularidade curiosa: em todos os seus romances entram infallivelmente um brazileiro, uma menina que se mette n'um convento, um fidalgo provinciano, e um namorado amorudo e transparente. �� invari��vel como a chuva e o bom tempo. De f��rma, que o
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