A estrada da noite | Page 3

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Danny sempre t ivesse alguma coisa com que
aborrecê-lo. Mas ele sempre tinha. E se não tivesse algo que exigisse atenção imediata, ia querer
bater papo. Danny era do sul da Califórnia e sua co nversa não tinha fim. Era capaz de
recomendar a pessoas que nunca vira antes os benefícios de consumir braquiária, que incluíam
deixar os movimentos dos intestinos com um aroma de grama recentemente cortada. Tinha 30
anos, mas podia falar de skate e de PlayStation com o entregador de pizza como se tivesse 14.
Danny desabafava com os homens que vinham consertar o ar-condicionado, contava como a
irmã tomara uma overdose de heroína na adolescência e que fora ele quem encontrara, ainda
rapaz, o corpo de sua mãe depois que ela se matou. Era impossível deixar Danny sem jeito. Ele
ignorava o que era timidez.
Jude estava voltando para dentro depois de alimentar Angus e Bon e passava pelo meio
da área de tiro de Danny (achando que talvez conseg uisse cruzar ileso o escritório) quando o

assistente disse:
— Ei, chefe, dê uma olhada nisto.
Danny iniciava quase todo pedido com aquelas palavras. Uma frase que Jude aprendera a
temer e da qual já se ressentia, um prelúdio a meia hora de tempo perdido preenchendo
formulários, lendo faxes, etc. Então Danny lhe disse que alguém estava vendendo um fantasma, e
Jude esqueceu a má vontade. Contornou a escrivaninh a para poder dar uma olhada, sobre o
ombro do assistente, na tela do computador.
Danny tinha descoberto o fantasma num site de leilões on-line, não o eBay, mas um de
seus clones menores. Jude correu o olhar pela descrição do item enquanto o assistente lia em voz
alta. Danny cortaria a comida no prato para o chefe se ele deixasse. Tinha uma postura de
subserviência que Jude, francamente, achava revoltante num homem.
— "Compre o fantasma do meu padrasto" — Danny leu. — "Seis semanas atrás, meu
padrasto, já idoso, morreu de forma súbita. Na época, estava hospedado conosco. Não tinha sua
própria casa e costumava passar temporadas com dive rsos parentes, ficando um mês ou dois em
determinado local antes de seguir adiante. Todos fi caram chocados com seu falecimento,
especialmente minha filha, que tinha muita intimidade com ele. Ninguém poderia imaginar. Foi
um homem ativo até o final da vida. Nunca sentava n a frente da TV. Todo dia tomava um copo
de suco de laranja. Tinha todos os dentes."
— Isso só pode ser piada — disse Jude.
— Acho que não - disse Danny. E continuou: — "Dois dias após seu funeral, minha filha
o viu sentado no quarto de hóspedes, que fica bem na frente do quarto dela. Depois disso, a
menina não quis mais ficar sozinha em seu quarto nem mesmo ir para o andar de cima. Expliquei
que o avô jamais iria machucá-la, mas ela disse que estava com medo dos olhos dele. Disse que
estavam cheios de traços negros e não eram mais par a ver. Desde então ela tem dormido comigo.
"A princípio achei que fosse
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