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Project Gutenberg's A Pavorosa Illusão, by Manuel Maria Barbosa du
Bocage
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Title: A Pavorosa Illusão
Author: Manuel Maria Barbosa du Bocage
Release Date: September 16, 2007 [EBook #22614]
Language: Portuguese
Character set encoding: ISO-8859-1
0. START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A
PAVOROSA ILLUSÃO ***
Produced by Tiago Tejo
A PAVOROSA
ILLUSÃO.
POR
M. M. B. DU BOCAGE.
LONDRES.
1837.
A PAVOROSA
ILLUSÃO.
POR
M. M. B. DU BOCAGE.
LONDRES.
1837.
_Ao Leitor_.
As Nações, humas já quebráram as algemas
do despotismo, outras
não tardaram a erguer
o grito da Liberdade; porque, aquellas
desesperáram de se salvar, estas estam a beber
as ultimas gotas do fel
da tyrannia. Por toda
a parte se alevantam os Povos contra a
execravel
imbecillidade dos reis e a maldita hypocrisia
dos
sacerdotes. Tão iniqua ha sido a
crueldade dos principes e dos frades
contra a
especie humana, que esta se decidio em fim
a sacudir, de
viva força, o jugo de ferro que
por tantos seculos lhes havia pesado.
He já
tempo que nós Portuguezes conheçamos a futilidade
das
illusões com que os nossos avós
nos embaláram. Risquemos para
sempre da memoria
esses ridiculos preconceitos de que nos
fartou a
superstição, com o perfido intuito de
mais a seu salvo nos envilecer.
Eia. ...Leamos
com attenção a excellente Epistola do nosso
grande
poeta Bocage, que tanto abunda em
salutares preceitos de moral
sublime.
A PAVOROSA
ILLUSÃO.
EPISTOLA.
Pavorosa illusão da eternidade,
Terror dos vivos, carcere dos mortos,
D'almas vãs sonho vão, chamado inferno;
Systema da politica
oppressora,
Freio, que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para
a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos
ternos corações, e a paz lhe arrancas;
Dogma funesto, detestavel
crença
Que envenenas delicias innocentes,
Taes como aquellas que
no céo se fingem.
Furias, cerastes, dragos, centimanos,
Perpetua
escuridão, perpetua chamma;
Incompativeis producções do engano,
Do sempiterno horror terrivel quadro
(Só terrivel aos olhos da
ignorancia)
Não, não me assombram tuas negras côres:
Dos homens
o pincel e a mão conheço.
Trema de ouvir sacrilego ameaço
Quem
de um Deos, quando quer, faz um tyranno.
Trema a superstição;
lagrimas, preces,
Votos, suspiros, arquejando espalhe;
Cosa as faces
co'a terra, os peitos fira:
Vergonhosa piedade, inutil venia.
Espere
ás plantas do impostor sagrado,
Q'ora os infernos abre, ora os ferrolha;
Que as leis e propensões da natureza
Eternas, immutaveis,
necessarias,
Chama espantosos, voluntarios crimes;
Que as ávidas
paixões, que em si fomenta,
Aborrece nos mais, nos mais fulmina;
Que molesto jejum, roaz cilicio
Com despotica voz á carne arbítra;
E nos ares traçando a futil benção,
Vai do gran'tribunal desenfadar-se
Em sordido prazer, venaes delicias,
Escandalo de amor, que dá,
não vende.
Ó Deus! não oppressor, não vingativo,
Não vibrando c'o
a dextra o raio ardente
Contra o suave instincto que nos déste;
Não
carrancudo, rispido arrojando
Sobre os mortaes a rispida sentença;
A punição cruel, que excede o crime,
Até na opinião do cego escravo,
Que te ama, que te incensa, e crê que és duro:
Monstros de vis
paixões, damnados peitos,
Pungidos pelo sofrego interesse,
Alto,
impassivel numen, te attribuem
A colera, a vingança, os vicios todos;
Negros enxames, que lhe fervem n'alma.
Quer sanhudo ministro
dos altares
Dourar o horror de barbaras cruezas;
Cobrir de véo
compacto e venerando,
Atroz satisfação d'antiguos odios,
Que a
mira poem no estrago da innocencia:
Ou quer manter asperrimo
dominio,
Que os vaivens da razão franqueia e nutre.
Eil-o em
sancto furor todo abrasado,
Hirto o cabello, os olhos côr de fogo,
A
maldição na bôcca, o fel na espuma;
Eil-o cheio de um Deus tam mau
como elle;
Eil-o citando os horridos exemplos,
Em que aterrada
observa a phantasia
Um Deus o algoz, a victima o seu povo.
No
sobr'olho o pavor, nas mãos a morte,
Involto em nuvens, em trovões,
em raios,
D'Israel o tyranno omnipotente
Lá brama do Sinai, lá
treme a terra.
O torvo executor dos seus decretos,
Hypocrita feroz,
Moysés astuto
Ouve o terrivel Deus, que assim troveja:
"Vai,
ministro fiel dos meus furores,
Corre, vôa a vingar-me, e seja a raiva
D'esfaimados leões menor que a tua.
Meu poder, minhas forças te
confio;
Minha tocha invisivel te precede;
Dos impios, dos ingratos,
que me offendem
Na rebelde cerviz o ferro ensopa.
Extermina,
destroe, reduz a cinzas
Dam a frageis metaes, a deuses surdos.
Sepulta as minhas victimas no inferno;
E treme se a vingança me
retardas."
Não lh'a retarda o rabido propheta.
Já corre, já vozeia, já
diffunde
Pelos brutos attonitos sequazes
A peste do implacavel
fanatismo.
Armam-se, investem, rugem, ferem, matam.
Que sanha,
que furor, que atrocidade!
Foge dos corações a natureza.
Os
consortes, os paes, as mães, os filhos,
Em honra do seu Deus
consagram, tingem
Abominosas mãos no parricidio.
Os campos de
cadaveres se alastram;
Susurra pela terra o sangue em rios.
Ah!
barbaro impostor, monstro sedento
De crimes, de ais, de lagrimas,
d'estragos,
Serêna o phrenesi, reprime as garras,
E a torrente de
horrores que derramas
Para fundar o imperio dos tyrannos,
Para
deixar-lhe o feio e duro exemplo
D'opprimir seus iguaes com ferreo
jugo.
Não profanes, sacrilego, não manches
Da eterna divindade o
nome augusto.
Esse, de quem te ostentas tam valido,
He Deus, do
teu furor, Deus do teu genio;
Deus creado
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