formado, vegetava em Villa Real de Santo Antonio: com elle desapparecera a *Patria*: e os mo?os zelosos que na Bibliotheca esquadrinhavam as Chronicas de Fernam Lopes e de Azurara, desamparados por aquelle Apostolo que os levantava, recahiram nos romances de Georges Ohnet e retomaram �� noite o taco nos bilhares da Sophia. Gon?alo voltava tambem mudado, de luto pelo pae que morrera em Agosto, com a barba crescida, sempre affavel e suave, por��m mais grave, averso a ceias e a noites errantes. Tomou um quarto no Hotel Mondego, onde o servia, de gravata branca, um velho creado de Santa Ireneia, o Bento:--e os seus companheiros preferidos foram tres ou quatro rapazes que se preparavam para a Politica, folheavam attentamente o Diario das Camaras, conheciam alguns enredos da C?rte, proclamavam a necessidade d'uma ?Orienta??o positiva? e d'um ?largo fomento rural?, consideravam como leviandade reles e jacobina a irreverencia da Academia pelos Dogmas, e, mesmo passeando ao luar no Choupal ou no Penedo da Saudade, discorriam com ardor sobre os dous Chefes de Partido--o Braz Victorino, o homem novo dos Regeneradores, e o velho Bar?o de S. Fulgencio, chefe classico dos Historicos. Inclinado para os Regeneradores, por que a Regenera??o lhe representava tradicionalmente id��as de conservantismo, de elegancia culta e de generosidade, Gon?alo frequentou ent?o o Centro Regenerador da Coura?a, onde aconselhava �� noite, tomando ch�� preto, ?o fortalecimento da auctoridade da Cor?a?, e ?uma forte expans?o colonial!? Depois, logo na Primavera, desmanchou alegremente esta gravidade politica: e ainda tresnoitou, na taberna do Camolino, em bacalhoadas festivas, entre o estridor das guitarras. Mas n?o alludio mais ao seu grande Romance em dous volumes: e ou recu��ra ou se esquecera da sua miss?o d'Arte Historica. Realmente s�� na Paschoa do Quinto-Anno retomou a penna--para lan?ar, na *Gazeta do Porto*, contra um seu patricio, o Dr. Andr�� Cavalleiro, que o Ministerio do S. Fulgencio nome��ra Governador civil de Oliveira, duas correspondencias muito acerbas, d'um rancor intenso e pessoal, (a ponto de chasquear ?a feroz bigodeira negra de S. Ex.^a?). Assignara Juvenal, como outr'ora o pae, quando publicava communicados politicos d'Oliveira n'essa mesma *Gazeta do Porto*, jornal amigo, onde um Villar Mendes, seu remoto parente, redigia a Revista Estrangeira. Mas l��ra aos amigos no Centro--?os dous botes decisivos que atirariam o Sr. Cavalleiro abaixo do seu Cavallo!? E um d'esses mo?os serios, sobrinho do Bispo de Oliveira, n?o disfar?ou o seu assombro:
--Oh Gon?alo, eu sempre pensei que voc�� e o Cavalleiro eram intimos! Se bem me lembro quando voc�� chegou a Coimbra, para os Preparatorios, viveu na casa do Cavalleiro, na rua de S. Jo?o... Pois n?o ha uma amizade tradicional, quasi historica, entre Ramires e Cavalleiros?... Eu pouco conhe?o Oliveira, nunca andei para os vossos sitios; mas at�� creio que Corinde, a quinta do Cavalleiro, pega com Santa Ireneia!
E Gon?alo enrugou a face, a sua risonha e lisa face, para declarar seccamente que Corinde n?o pegava com Santa Ireneia: que entre as duas terras corria muito justificadamente a ribeira do Coice: e que o Sr. Andr�� Cavalleiro, e sobre tudo Cavallo, era um animal detestavel que pastava na outra margem!--O sobrinho do Bispo saudou e exclamou:
--Sim senhor, boa piada!
Um anno depois da Formatura, Gon?alo foi a Lisboa por causa da hypotheca da sua quinta de Praga, junto a Lamego, que certo f?ro annual de dez r��is e meia gallinha, devido ao Abbade de Praga, andava empecendo terrivelmente nos Conselhos do Banco Hypothecario;--e tambem para conhecer mais estreitamente o seu Chefe, o Braz Victorino, mostrar lealdade e submiss?o partidaria, colher algum fino conselho de conducta Politica. Ora uma noite, voltando de jantar em casa da velha Marqueza de Louredo, a ?tia Louredo?, que morava a Santa Clara, esbarrou no Rocio com Jos�� Lucio Castanheiro; ent?o empregado no Ministerio da Fazenda, na reparti??o dos Proprios Nacionaes. Mais defecado, mais macilento, com uns oculos mais largos e mais tenebrosos, o Castanheiro ardia todo, como em Coimbra, na chamma da sua Id��a--?a resurrei??o do sentimento portuguez!? E agora, alargando a propor??es condignas da Capital o plano da *Patria*, labutava devoradoramente na crea??o d'uma Revista quinzenal de setenta paginas, com capa azul, os *Annaes de Litteratura e de Historia*. Era uma noite de Maio, macia e quente. E, passeando ambos em torno das fontes seccas do Rocio, Castanheiro, que sobra?ava um rolo de papel e um gordo folio encadernado em bezerro, depois de recordar as cavaqueiras geniaes da rua da Misericordia, de maldizer a falta de intellectualidade de Villa Real de Santo Antonio--voltou soffregamente �� sua Id��a, e supplicou a Gon?alo Mendes Ramires que lhe cedesse para os *Annaes* esse Romance que elle annunci��ra em Coimbra, sobre o seu avoengo Tructesindo Ramires, Alferes-m��r de Sancho I.
Gon?alo, rindo, confessou que ainda n?o come?��ra essa grande obra!
--Ah! murmurou o Castanheiro, estacando, com os negros oculos sobre elle, duros e desconsolados. Ent?o
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